Desastres reputacionais e bacalhau*

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1. Ellen DeGeneres é uma "Cristina Ferreira" global, tem um talk-show com o seu nome há dezasseis anos na NBC, premiado com carradas de Emmys, onde não se cansa de repetir o mantra: "sejam simpáticos uns com os outros".

Ora, uma semana depois do programa ter sido interrompido por causa da peste, um tuíte de Kevin T. Porter iniciou uma epidemia de revelações, todas a apontar num sentido: a boazinha da Ellen, afinal, é uma Cruella DeVil.

Note-se: esta alusão à personagem malvada dos 101 Dálmatas é minha, não do tuíte. Este limitou-se a prometer dois dólares ao Banco Alimentar de Los Angeles por cada episódio que os tuiteiros contassem de Ellen a ser má.

Foi uma alegria para a dona Jonet lá do sítio. As coisas começaram a sair do armário. Umas atrás das outras. Ellen com câmaras ligadas é uma simpatia; com elas desligadas, maus fígados: ambiente tóxico entre os colaboradores, assédio, cortes salariais de 60% sem uma palavra de justificação, por aí fora.

DeGeneres já pediu desculpa. Esta semana, o tablóide Sun informou que ela conta regressar aos ecrãs com a ajuda da matriarca Kardashian. Não vai ser fácil.

Este caso ilustra uma tendência mundial: o poder -- seja ele económico, político, militar, religioso, académico, mediático, ... -- é cada vez mais difícil de manter. E os desastres reputacionais dos poderosos são cada vez mais frequentes.

Às vezes eles não recuperam, outras sim. Por exemplo, a VW parece ter sobrevivido à aldrabice com as emissões dos motores diesel.


2. As obras socráticas na estrada Viseu-Sátão transformaram-na numa rua engarrafada. Nem nas subidas de Mundão e do Tosco fizeram vias de lentos.

Lisboa pensou: "para a província bacalhau basta". Na altura, irritado, "desejei" aqui que, na inauguração daquilo, os bolos de bacalhau dessem a volta à tripa dos vips.

Foi-se Sócrates, veio Passos. Foi-se Passos, veio Costa. Lá continuamos a caracolar naquela rua. Não se sabe até quando. As câmaras de Viseu e do Sátão acabam de anunciar que aceitam comparticipar as obras com 1,4 milhões de euros dos seus orçamentos, conforme lhes é exigido.

O governo, no tempo de Sócrates, fornecia mau bacalhau mas pagava-o. Mas Costa não vai nisso: «viseenses e satenses, se quereis bacalhau, pagai-o!»

Caso se dê o milagre de a obra avançar, esperemos que, desta vez, o fiel amigo seja melhorzito.

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