No pequeno museu sentimental
Fotografia de Marina Kazmirova
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No pequeno museu sentimental
os fios dos cabelos religados
por laços mínimos de fita
são tudo o que dos montes hoje resta,
visitados por mim, montes de Vénus.
Apalpo, acaricia a flora negra,
a negra continua nesse branco
total do tempo extinto
em que eu, pastor felante, apascentava
caracóis perfumados, anéis negros,
cobrinhas passionais, junto do espelho
que com elas rimava, num clarão.
Os movimentos vivos no pretérito
enroscam-se nos fios que me falam
de perdidos arquejos renascentes
em beijos que da boca deslizavam
para o abismo de flores e resinas.
Vou beijando a memória desses beijos.
Carlos Drummond de Andrade
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