Esperança de vida*

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Este gráfico mostra-nos que a esperança de vida no mundo, entre 1800 e 1910, manteve-se sem grandes alterações entre os 30 e os 33 anos.

A guerra 1914-18 (9 milhões de mortos), logo seguida da gripe pneumónica (50 milhões de mortos – 2,7% da população mundial de então) trambolharam aquele índice de 33 para 23 anos. Em 1920, um bebé-sapiens podia esperar viver 23 anos, decorrido um século prodigioso essa expectativa mais do que triplicou e ultrapassa agora os 72 anos.

Este indicador de longevidade não subiu sempre ao longo do século XX. Infelizmente, como se vê no gráfico, houve ainda mais duas grandes “pneumónicas”, causadas não por vírus mas por humanos:

— a guerra de 1939-45 (70 a 85 milhões de mortos);

— a grande fome na China (em que o experimentalismo político de Mao Tsetung terá causado 36 milhões de mortes).

No seu monumental “Lápide - A Grande Fome Chinesa, 1958-1962”, o veterano jornalista Yang Jisheng, depois de ter acedido a arquivos secretos do partido comunista chinês, calcula que tenham morrido à fome 36 milhões de chineses.

O desespero fez com que os chineses comessem tudo o que mexia. O livro faz relatos terríveis de técnicas para apanhar ratos, de episódios generalizados de canibalismo.

Foi esta fome trágica que fez nascer na China o mercado de animais selvagens. Essa actividade acabou por sobreviver até aos nosso dias, agora já não para matar a fome dos pobres mas para dar resposta a uma procura “gourmet” (chamemos-lhe assim) de ricos.

Foi num mercado desses animais, em Wuhan, que o actual SARS-CoV-2 terá migrado para os humanos. À hora que escrevo, este vírus já matou quase 150.000 pessoas e este número trágico vai continuar a aumentar.

Contudo, não percamos a perspectiva: esta ameaça viral conseguiu fechar-nos em casa angustiados, mas, ao contrário da pneumónica, não vai conseguir fazer baixar a gloriosa linha ascendente do aumento da esperança de vida dos humanos.

Proteja-se. Fique em casa o mais possível. Esta peste há-de passar.

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