(Para um) olhar — [POLITÉCNICO DE VISEU 40 ANOS #10]

Histórias que Dão para Ver, Teatro do Montemuro,
Texto de João Luis Oliva
Fotografia Olho de Gato




João Luís Oliva
Nasceu no ano de 1956, em Viseu, terra de onde saiu em 1970
Conheceu pessoas e situações em muitos sítios
Aprendeu a fazer perguntas
Vive novamente em Viseu, desde 1987



Não regresso a um lugar que julgue meu
nem a um tempo povoado de sinais.
Cruzo viagens em direcção a uma utopia
imemorial.

Mesmo que as tílias ainda cheirem a tília
(cheirar a tília é, afinal, o destino inexorável das tílias...).

Há lugares e tempos que só quero ver com um olhar
construído noutros sítios, a des-horas.
Não de olhos inutilmente abertos.
Ir além de corredores que se ajoelham em altares,
de ruas que desaguam em igrejas,
de bairros que se esgotam em paróquias.

Mas faço - desfaço - refaço teias de memória
urdidas por deuses invisivelmente competentes,
cantados por castrados e visíveis catequistas semanais.

E quero um destino que não seja inexorável,
em que cada volta seja mais que um regresso.
Construo - desconstruo - reconstruo ângulos e direcções,
num olhar.

Longe e devagar.
Com olhos transitoriamente fechados,
sonhadores de deuses
preguiçosamente sensuais.

Desenterro raízes de fogo
que planto na água
de todos os ares.


Poetas e pintores e Viseu
Edição Politécnico de Viseu, 2001




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