Falsificar o passado*
* Hoje no Jornal do Centro
Não há país europeu em que a memória histórica cause tanta controvérsia como na Polónia, onde políticos e “académicos” estão sempre a reescrever o passado para obterem ganhos no presente.
Christian Davies, na última edição da London Review of Books, conta uma dessas querelas, num texto intitulado “Debaixo da linha de comboio”.
Davies começa por descrever uma cerimónia na capital polaca, em Outubro de 2017, em que, na presença de autoridades civis, militares e religiosas, foi descerrada uma placa que dizia: “Em memória dos 200.000 polacos assassinados em Varsóvia no campo de morte alemão de KL Warschau”.
Nunca se tinha avançado com uma cifra de mortes deste tamanho, até Maria Trzcińska, uma juíza que tinha trabalhado na Comissão de Investigação dos Crimes Nazis na Polónia, ter publicado uma monografia em 2002, em que, entre várias fantasias, afirmava que um túnel rodoviário que passa debaixo de uma estação de comboios de Varsóvia tinha sido transformado pelos alemães numa gigantesca câmara de gás onde teriam sido executados os tais duzentos mil polacos, na sua maioria não-judeus (pormenor importante nesta narrativa).
A partir daí, a extrema direita nacionalista e anti-semita e o partido PiS, no poder, nunca mais largaram aquele osso, com a tese de o país ter sido vítima de um “Polocausto” (termo deles).
Ora, a verdade é que não foram assassinados duzentos mil polacos em KL Warschau. O campo existiu de facto no gueto de Varsóvia depois de este ter sido destruído por Himmler, em 1943, e recebeu muitos judeus exactamente para serem usados como mão-de-obra escrava para limpar as ruínas. As estimativas apontam para a morte ali de vinte mil pessoas.
Há evidências fotográficas e testemunhais de que aquele túnel por baixo da estação esteve sempre aberto ao trânsito, que, portanto, nunca foi uma câmara de gás, mas há sempre maluquinhos prontos a acreditar em qualquer patranha e construir, à volta dela, uma teoria da conspiração.
Não há país europeu em que a memória histórica cause tanta controvérsia como na Polónia, onde políticos e “académicos” estão sempre a reescrever o passado para obterem ganhos no presente.
Christian Davies, na última edição da London Review of Books, conta uma dessas querelas, num texto intitulado “Debaixo da linha de comboio”.
Davies começa por descrever uma cerimónia na capital polaca, em Outubro de 2017, em que, na presença de autoridades civis, militares e religiosas, foi descerrada uma placa que dizia: “Em memória dos 200.000 polacos assassinados em Varsóvia no campo de morte alemão de KL Warschau”.
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A partir daí, a extrema direita nacionalista e anti-semita e o partido PiS, no poder, nunca mais largaram aquele osso, com a tese de o país ter sido vítima de um “Polocausto” (termo deles).
Ora, a verdade é que não foram assassinados duzentos mil polacos em KL Warschau. O campo existiu de facto no gueto de Varsóvia depois de este ter sido destruído por Himmler, em 1943, e recebeu muitos judeus exactamente para serem usados como mão-de-obra escrava para limpar as ruínas. As estimativas apontam para a morte ali de vinte mil pessoas.
Há evidências fotográficas e testemunhais de que aquele túnel por baixo da estação esteve sempre aberto ao trânsito, que, portanto, nunca foi uma câmara de gás, mas há sempre maluquinhos prontos a acreditar em qualquer patranha e construir, à volta dela, uma teoria da conspiração.
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