A guerra aos professores*

* Hoje no Jornal do Centro


Os professores foram felizes durante quinze anos, desde a primavera de 1990, quando viram aprovada a carreira única por Roberto Carneiro, até à primavera de 2005, quando Maria de Lurdes Rodrigues iniciou uma guerra contra eles em duas frentes: retirar-lhes o controlo do seu trabalho (com uma nova gestão das escolas, a multiplicação da burocracia e do eduquês facilitista) e retirar-lhes dinheiro (com a avaliação e o congelamento da carreira).

A partir de 2005, as agências de comunicação governamentais nunca mais pararam de instigar a hostilidade da comunicação social contra os professores, cumprindo a estratégia que José Sócrates enunciou: “perdi os professores mas ganhei a opinião pública”.

A partir de 2005, os teóricos do eduquês instalados nos gabinetes governamentais, nas faculdades, nas escolas superiores de educação, que fogem das salas de aula como o diabo da cruz, nunca mais pararam de infernizar a vida de quem nelas trabalha.

A partir de 2005, os políticos nunca mais pararam o massacre, sempre a mudarem as leis, os regulamentos, os currículos, a avaliação dos alunos, sempre a arranjarem mais obrigações para as escolas e menos para as famílias e para os alunos indisciplinados.

Ora, toda esta pressão acumulada acabou por achar a válvula de escape que todo o país conhece: os 9A 4M 2D.

Para os profs, estes 9A 4M 2D são muito mais do que dinheiro ou tempo de serviço congelado, os 9A 4M 2D são uma sublimação emocional, são a saudade e a esperança no regresso aos anos em que foram felizes.


Fotografia de António Cotrim (editada a partir daqui)
Como é sabido, António Costa acaba de concluir a guerra iniciada, em 2005, por José Sócrates. O primeiro-ministro acaba de dizer aos professores que, com ele, os tempos felizes não voltam mais. O PS gosta de donos de restaurantes e de banqueiros. De profs não.

A partir de agora, só irá para professor quem não puder fazer mais nada. Daqui a poucos anos, vai haver falta de professores.

Comentários

  1. “Erguei-vos e tomai lugar à mesa”

    Em entrevista ao jornal Público, dia 25 Abril, Ferro Rodrigues afirmou: ”Se as eleições fossem amanhã, votava Marcelo”.

    Não é a primeira vez que dirigentes socialistas expõem, publicamente, este desejo.
    Muito me espanta este pensamento! Este unanimismo serôdio, bacoco e politicamente claustrofóbico é doentio!

    Marcelo trouxe um novo estilo e uma atitude cosmopolita. Um Presidente cosmopolita, sem dúvida!
    Mas, isso não significa que o seu projecto, seja o meu!
    Mas, isso não significa que os seus ideais, sejam os meus!
    Há uma linha na areia!

    Sem nostalgia ou sem optimismo descrente ainda continuo a acreditar que “há um futuro e um projecto” para a esquerda. Não aceito que socialistas estendam a passadeira a uma recandidatura de “União Nacional com cara lavada”.

    Os socialistas abdicam de ter candidato próprio?
    Por exemplo, gostaria de ver uma posição frontal do PS contra a aceitação da asiatização nas relações de trabalho, no mundo ocidental. Continuo a pensar que o motor que comanda isto tudo é a luta de classes, a exploração do homem pelo homem. Como dizia o Antero de Quental: “Não disputeis, curvado o corpo todo, as migalhas do banquete. Erguei-vos e tomai lugar à mesa”.

    Com a Geringonça vivemos tempos de “austeridade em clima de paz social” mas que não podem servir para o PS impor o “fim das ideologias”. Faz parte da ideologia dominante dizer que já não há ideologias. A noção direita/esquerda não se perdeu!

    Ferro e outros dirigentes sabem que, em política as percepções, são fundamentais e era importante se empenhassem na luta contra a indiferença e pela defesa da democracia participada, patrocinando um candidato próprio, um candidato do PS.
    O que os dirigentes socialistas andam a defender (com este apoio à recandidatura) é a vitória dos deslumbrados pelas luzes da ribalta!

    O que escrevi são coisas inúteis? Sim, sem dúvida. Se querer pensar saber pensar é inútil.

    E ainda:
    A (excelente) crónica “A Guerra dos Professores”, só podia ter sido escrita por um ex professor. Porquê?
    Pela sensibilidade, pela construção do texto, pelas palavras escolhidas, pelo conhecimento.
    Somos nós, os sessentas, que vamos aguentado o sistema!

    Importante é reconhecer a visão: “Daqui a poucos anos, vai haver falta de professores.”
    A resposta dos políticos tem sido igual à daquela senhora da televisão: ”Isso Agora... Não Interessa Nada!”. Tudo gente culta….

    A terminar: um carro (só pode ser de bois…), no cortejo da Queima das Fitas de Coimbra, levava o rótulo de "Alcoholocausto". O esgoto a céu aberto! O esgoto promovido a “Doutor”! PQP!


    E mesmo no fim...
    Sempre José Mário Branco, aqui na versão de JP Simões + Miguel Nogueira

    “Inquietação”
    “A contas com o bem que tu me fazes
    A contas com o mal por que passei
    Com tantas guerras que travei
    Já não sei fazer as pazes”

    https://youtu.be/SvYFLDe6Jn8


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  2. Os sindicatos dos professores cometeram, a meu ver, um erro crasso: partiram sempre para as negociações com uma imposição e não uma negociação, onde se pressupõe que sejam feitos acordos com algumas cedências de parte a parte. Não reconheceram a situação financeira do país, do facto da classe dos professores ser muito numerosa ( 120 000 professores) e ainda o caos financeiro e político que seria causado pelas reivindicações dos outros setores da função pública. Não teria sido mais prudente uma negociação em vez de uma imposição?

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