Desobras*
* No Jornal do Centro ha exactamente dez anos, em 31 de Outubro de 2008
1. Na Expotec, um robô jogava o jogo do galo com o público. Não sei se jogava bem se jogava mal. Quando passei lá, estava uma pessoa a carregar nos botões e ele respondia com uns braços articulados enormes.
Era um robô excessivo, grande demais, a gastar energia demais, num jogo burro. O jogo do galo, bem jogado, dá sempre empate. É um jogo burro.
Ao ver aquilo, lembrei-me do filme “War Games” (1983), em que o sistema informático do Pentágono toma o freio nos dentes e se prepara para começar uma guerra nuclear. Há um relógio em contagem decrescente para o fim do mundo. Ninguém o consegue parar.
Então, o herói põe a máquina a jogar o jogo do galo. Empata. O computador procura mais recursos. Empata outra vez. Mais energia. Novo empate. Mais energia e mais capacidade de processamento. Empates, mais empates. O sistema concentra-se cada vez mais no jogo do galo. Ziliões de empates em cada segundo. Até que a máquina percebe e diz: “Jogo engraçado: a única maneira de ganhar é não jogar!” E, então, pára a contagem decrescente para o apocalipse. Uffff…
2. Foi numa edição do Público que conheci as ideias de poupança e frugalidade do arquitecto Jean-Philippe Vassal.
Uma das suas coroas de glória é a resposta que o seu atelier deu, em 1996, a uma encomenda da câmara de Bordéus para o embelezamento de uma praça. Quando foram estudar o local, viram uma praça bonita, onde as pessoas se sentiam bem. Em consequência, decidiram não mexer no que estava bem. O projecto que apresentaram à câmara foi não fazer projecto. Em vez de uma obra, fizeram uma desobra.
3. “Envelhecem virgens” tantas casas novas! Não há quem as compre. Estão prontas. Foram obras. Já não podem ser desobras. Quanto tempo vão ficar elas a ganharem teias de aranha?
1. Na Expotec, um robô jogava o jogo do galo com o público. Não sei se jogava bem se jogava mal. Quando passei lá, estava uma pessoa a carregar nos botões e ele respondia com uns braços articulados enormes.
Era um robô excessivo, grande demais, a gastar energia demais, num jogo burro. O jogo do galo, bem jogado, dá sempre empate. É um jogo burro.
Ao ver aquilo, lembrei-me do filme “War Games” (1983), em que o sistema informático do Pentágono toma o freio nos dentes e se prepara para começar uma guerra nuclear. Há um relógio em contagem decrescente para o fim do mundo. Ninguém o consegue parar.
Então, o herói põe a máquina a jogar o jogo do galo. Empata. O computador procura mais recursos. Empata outra vez. Mais energia. Novo empate. Mais energia e mais capacidade de processamento. Empates, mais empates. O sistema concentra-se cada vez mais no jogo do galo. Ziliões de empates em cada segundo. Até que a máquina percebe e diz: “Jogo engraçado: a única maneira de ganhar é não jogar!” E, então, pára a contagem decrescente para o apocalipse. Uffff…
2. Foi numa edição do Público que conheci as ideias de poupança e frugalidade do arquitecto Jean-Philippe Vassal.
Uma das suas coroas de glória é a resposta que o seu atelier deu, em 1996, a uma encomenda da câmara de Bordéus para o embelezamento de uma praça. Quando foram estudar o local, viram uma praça bonita, onde as pessoas se sentiam bem. Em consequência, decidiram não mexer no que estava bem. O projecto que apresentaram à câmara foi não fazer projecto. Em vez de uma obra, fizeram uma desobra.
3. “Envelhecem virgens” tantas casas novas! Não há quem as compre. Estão prontas. Foram obras. Já não podem ser desobras. Quanto tempo vão ficar elas a ganharem teias de aranha?
Comentários
Enviar um comentário