Compasso 331*

* Texto publicado no Jornal do Centro há exactamente dez anos, em 17 de Outubro de 2008 

     
1. No prefácio do seu livro Bem-vindo ao Deserto do Real, Slavoj Žižek chama a atenção para o compasso 331 do último andamento da nona sinfonia de Beethoven. No que é o hino oficioso da União Europeia há um antes e um depois do compasso 331. 


    
Cito Žižek: “depois de ter escutado o tema da alegria nas suas três variações orquestrais e vocais, acontece algo inesperado” e “tudo se degrada e não mais voltamos a encontrar a dignidade simples e solene”.
     
Nesta perspectiva, no compasso 331 do Hino à Alegria há um ponto de viragem mau.

     
2. Portugal também teve o seu compasso 331. Há um antes e um depois do dia 4 de Março de 2001, o dia em que caiu a ponte de Entre-os-Rios. 
Desde esse dia estamos a marcar passo.




O blogue Blasfémias fez as contas: de 2001 a 2007, Portugal cresceu em média 1,1% ao ano. No mesmo período de tempo, Espanha cresceu 3,4% ao ano; a Polónia 4; a Grécia 4,3; a República Checa 4,9. Os países bálticos cresceram quase a 10% ao ano.
     
Vamos no sétimo ano seguido de subida de impostos e de empobrecimento da classe média e dos funcionários públicos. O resultado não é bom: desde 2001, já fomos ultrapassados pela Eslovénia e pela República Checa. Este ano a Eslováquia e a Estónia já ligaram o pisca e vão-nos passar. A Polónia aproxima-se.
     
Com o dinheiro fácil dos fundos comunitários o país ficou menos frugal e mais corrupto. A última história de ganhuça que aparece nos media serve só para fazer esquecer a penúltima. Nunca acontece nada. É justo dizer que têm aparecido políticos influentes a quererem lutar contra a corrupção mas acabam por se ir embora. Perante o polvo, acabam por desistir. Os últimos foram João Cravinho e Marques Mendes.

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