O dansante satan

Fotografia de Corinne Lanthemann

Provoquei um bafafá
porque fallo do chulé,
confessando que me dá
mais tesão que um beijo, até.
Houve gente que viu má
compostura e viu má fé:
que, ao Islam, offendo Allah;
que, aos judeus, trahi Javeh.
Menos, menos! Não trahi
nem offendo! Existe ahi
exaggero no tabu!
Ha quem goze, attentem só,
cafungando num loló
e do Demo beije o cu!

Eu rezei, ja, certa vez,
quando ainda visão tinha.
Implorei, vejam vocês,
pela graça da sanctinha!
De orações fiquei freguez
e a fazer promessas vinha.
Mas a propria vida fez
que eu mudasse depressinha.
O glaucoma se aggravando,
eu ainda creio, quando
a cegueira, emfim, me aggarra!
Crente a gente teima em ser
mas Satan tem o poder
de meu olho abrir na marra!

O demonio que apparesce
para a gente, em sonho, é tão
horroroso que uma prece
nós fazemos contra o Cão!
Mas si alguem, de dia, desse
uma olhada nos que estão
a adjudar quem enriquesce,
mudaria essa impressão!
O assessor dum deputado,
do bandido um advogado
ou um caro marketeiro,
são disfarses que Satan
veste, logo de manhan,
mas, à noite, é o verdadeiro!

O Diabo, quando espeta,
no trazeiro, um peccador,
do tridente é, bem na recta
do cuzinho, aguda a dor!
Mas a bicha, que incorrecta
ser bem sabe, quando for
para o inferno, tem por meta
esse garfo empalador!
Tudo é muito relativo...
Eu, portanto, não me privo
de nenhum prazer na vida.
Si do Demo o peido fede,
quem cheirou até lhe cede
a bundinha dolorida.
Glauco Mattoso


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