Um pesadelo*

* Hoje no Jornal do Centro


1. A constituição democrática do Brasil foi promulgada em Outubro de 1988, um ano antes da queda do muro de Berlim. Na altura, o Partido dos Trabalhadores (PT) era anti-sistema e não quis participar no processo de passagem da ditadura militar para a democracia. Não estava de acordo com as regras da “democracia-burguesa” mas depois usou-as impecavelmente e conseguiu eleger Lula da Silva, alcandorando o Brasil a uma posição de destaque e respeito no mundo.


Fotografia de Marcelo Sayao
Lula foi um bom presidente e chegou ao fim do seu último mandato com taxas de aprovação de 90%. Na altura muita gente queria que ele mudasse a limitação constitucional de mandatos de forma a poder continuar, mas Lula recusou. Fez bem. Lula foi, então, um democrata, contrastando, por exemplo, com o que estava a fazer o funesto Chavez na Venezuela.

2. Entretanto, Lula mudou. Para pior. Escrevo este texto no dia em que o PT o registou como seu candidato oficial a presidente, ao mesmo tempo que candidatava a vice-presidente Fernando Haddad, ex-prefeito de S. Paulo.

Estamos perante um padrão comportamental: mal começou a ter sarilhos no Lava Jato, Lula arrastou Dilma até ao chão e está agora a fazer o mesmo ao PT, levando-o a desrespeitar uma lei que a cidadania brasileira impôs à sua corrupta classe política.

Recorde-se: a lei da ficha limpa, que proíbe um condenado em segunda instância de ir a votos, foi aprovada pelo Congresso, após uma petição de 1,6 milhões de brasileiros, e foi promulgada por Lula, no seu último ano de presidência.

Lula, em 2010, respeitou as regras. Em 2018, a criatura não respeita nem tão pouco uma das leis que promulgou. Lula é agora um projecto de autocrata. Uma ameaça à democracia.

Se Haddad fosse eleito, trataria logo de conceder perdão a seu superior hierárquico. O Brasil virava uma Venezuela ou uma Nicarágua. Um pesadelo. Não pode acontecer.

Tal como em 1988, a democracia brasileira vai ter que avançar sem o PT.

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