Ó meu rico Santo Antoninho, tomara cá o dia do voto! — um texto de JB*
Chegados ao fim da legislatura mais violenta de que há memória, os portugueses constatam que os seus sacrifícios não melhoraram a situação do país nem das pessoas.
O ódio aos trabalhadores está patente nos cortes salariais e, sobretudo, nas alterações aos códigos de trabalho e fiscais, modificados em favor das entidades empregadoras. Desde o dia em que tomou posse, este governo pôs em prática um plano de empobrecimento do país publicamente assumido, iniciando em simultâneo a perseguição aos mais fracos, os pensionistas e os idosos em geral. Milhares de pessoas sem emprego. Milhões a viverem abaixo do limiar da pobreza. Centenas de milhares de jovens a emigrar e sem perspectiva de vida.
É verdade que "atrás de tempos vêm tempos e outros tempos hão-de vir", mas vivemos dos momentos mais tristes da nossa história. O caso português é especialmente doloroso, justamente por Abril se ter desmoronado tão completamente e a rendição ser tão grande — sejam organizações, sejam pessoas — que mesmo o cravo, hoje, se tornou uma lágrima de sangue, do sangue da ingenuidade com que se deixou os lobos à solta, como provoca um sentimento dual quando o vejo na lapela de um Pedro Passos Coelho. Por um lado 'irrita-me' o cinismo do acto, por outro acho que está certo! Não fosse o cravo o símbolo maior de uma tão grande generosidade, nunca o Coelho teria sido o primeiro-ministro de Portugal...
“Isto” já só me causa uma revolta tão grande, daquela 'raiva' em que os olhos se molham, com o baixar das próprias armas ideológicas, é a "esquerda" que me dá 'asco' e desgosto. A direita cumpre maravilhosamente o seu papel. A "esquerda" é que se demitiu de o ser.
Quanto o Partido Socialista, todos os dias reafirma ser um “partido de esquerda”. Mas o que é ser um partido de esquerda nos tempos actuais, neste mundo globalizado comandado e controlado pelo capital financeiro, pelos “mercados” financeiros? Quando vemos os partidos europeus da área da social-democracia, partidos ideologicamente irmãos do PS - partidos socialistas, trabalhistas e social-democratas - abandonarem a ideologia que sempre disseram defender e abraçarem a ideologia neoliberal, o liberalismo arcaico ressuscitado do século XIX, será de questionar o Partido Socialista Português sobre qual o seu verdadeiro posicionamento actual.
Desde 2011 que nenhuma sondagem dá maioria absoluta ao Partido Socialista.
“Seguro era um líder fraco e sabia que era fraco. A sua “abstenção violenta” ficará para a história como uma página de vergonha para o PS e a sua colaboração de facto com o governo mais reaccionário de sempre feriu profundamente a imagem do PS.” – cito José Vítor Malheiros.
O estudo encomendado por António Costa a 12 economistas para servir de base a um programa de governo socialista representa uma viragem na política portuguesa. Não porque seja algo de extraordinário ou impensável, pelo contrário, devia ser uma coisa natural e até obrigatória. Mas não. Em Portugal, não é hábito o debate político basear-se em estudos e documentos de especialistas, valendo antes a improvisação e as promessas sem substância. O documento tem falhas e omissões? Ainda bem… Estou farto dos “filhos” do que “nunca tem dúvidas e raramente se engana”.
Agora, há correcções urgentes, caso contrário o Partido Socialista vai “passivamente render-se às inevitabilidades", perdendo espaço e possibilidade de acção transformadora. É hoje preocupante observar que as distâncias programáticas entre a direita e o PS se vão atenuado. E cresce o coro dos que aconselham António Costa a fugir de "radicalismos", a "não estragar" as propostas dos tecnocratas do centrão de interesses cujo trabalho científico é "oferecido" a um ou outro lado, apenas com nuances de forma. (Ler declarações de Catroga e puxar autoclismo...).
Fica claro que com este documento se torna difícil uma aproximação do PS à esquerda. As propostas revelam pouca vontade em levar a cabo uma política de real combate às desigualdades e à pobreza, aos privilégios dos poderosos, à corrupção e aos interesses ilegítimos, de defesa do Estado Social e dos serviços públicos, de defesa do emprego. Se for governo, irá provavelmente adoptar políticas fiscais menos penalizadoras dos trabalhadores e políticas sociais mais generosas que o actual governo PSD-CDS e isso será melhor do que o status quo actual, mas será dramaticamente insuficiente.
Por outro lado, a direita tem razões para estar preocupada, pois apareceu uma alternativa que quer reorganizar a austeridade, cedendo o mínimo possível aos mínimos sociais. O PS move-se para o centro em matérias como o controlo do défice e dá um passo para o liberalismo económico puro e duro nas fórmulas que propõe para os despedimentos ou nos cortes permanentes na TSU para as empresas. É de assinalar o empenho na execução dos fundos europeus, o imposto sobre as heranças ou a reposição de alguns mínimos sociais e do RSI, mas isso não chega. Sobre educação nem vale a pena falar, pois as propostas são tão básicas ou penalizadoras dos professores (exemplo penalizar quem concorrer “várias vezes”) que ainda vão acabar por recuperar a “Senadora” Lurdes Rodrigues. O processo de branqueamento do “período negro” já começou quando vemos o sr. Albino Almeida na primeira fila de eventos do PS/Porto.
Costa é perentório: "Ninguém peça ao PS compromissos com este Governo" – “Expresso”- 25 Abril, mas é interessante ouvir um habitual comentador PPD (Pedro Marques Lopes) dizer: “O PSD subscreveria este documento”.
No essencial, o que está em cima da mesa não é o fim da austeridade, mas apenas o abrandamento do seu ritmo. É a partir daqui que se fazem as escolhas…
"Quando não sabes para onde hás-de ir,
lembra-te de onde vens"
Roberto Rossellini (realizador italiano)
JB
* JB está desertinho para ir votar
O país a caminho do Bloco Central dos Interesses.
ResponderEliminarOnde está o Partido Socialista capaz de liderar uma alternativa da Esquerda Humanista ?
Caro Rui Monteiro, peço-lhe desculpa, só agora vi o seu comentário, o que levou a um atraso na sua publicação que não devia ter acontecido.
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