Selectorado *
* Texto publicado hoje no Jornal do Centro
Selectorado é um termo da ciência política, cunhado por Bruce Bueno de Mesquita, que designa o conjunto de pessoas que têm influência na selecção de um líder político. A teoria do selectorado, desenvolvida em “The Logic Of Political Survival”, merece estudo. O enxame de "politólogos" que papagueia todas as noites nas televisões fazia bem em ler este livro.
Na nossa terceira república, a selecção dos líderes a submeter a votos pelas várias agremiações partidárias tem sido feita em "petit-comité", em sótãos conspiratórios e missas maçónicas. Só depois de decidido o essencial, é que as coisas são formalizadas, de cima para baixo, nos órgãos estatutários dos partidos.
Nos partidos de esquerda nunca houve selectorados numerosos. Houve um recente, em Paris, em que três ou quatro íntimos de Louçã e ele próprio decidiram a desastrosa "solução" bicéfala para liderar o bloco. Que foi acatada a seguir pelo rebanho.
A cultura organizacional dos partidos da direita portuguesa é tão leninista como a da esquerda. Contudo, têm na sua história pelo menos dois momentos de algum fôlego de baixo para cima capaz de derrubar poderes instalados: a eleição de Cavaco no congresso da Figueira da Foz, em 1985, e a de Paulo Portas em Braga, doze anos depois. Nestes casos, o selectorado não cabia num sótão ou numa loja.
Chegados aqui, resta-nos olhar para o actual processo de primárias do PS. Segundo números do início desta semana, ainda não definitivos, vão poder participar na escolha do candidato socialista a primeiro-ministro quase 240 mil pessoas (93 mil militantes e 146 mil simpatizantes). Estes números estão muito longe dos das primárias recentes do centro-esquerda em França e Itália mas, mesmo assim, impõem respeito. Nunca houve um selectorado tão grande em Portugal.
Selectorado é um termo da ciência política, cunhado por Bruce Bueno de Mesquita, que designa o conjunto de pessoas que têm influência na selecção de um líder político. A teoria do selectorado, desenvolvida em “The Logic Of Political Survival”, merece estudo. O enxame de "politólogos" que papagueia todas as noites nas televisões fazia bem em ler este livro.
Na nossa terceira república, a selecção dos líderes a submeter a votos pelas várias agremiações partidárias tem sido feita em "petit-comité", em sótãos conspiratórios e missas maçónicas. Só depois de decidido o essencial, é que as coisas são formalizadas, de cima para baixo, nos órgãos estatutários dos partidos.
Nos partidos de esquerda nunca houve selectorados numerosos. Houve um recente, em Paris, em que três ou quatro íntimos de Louçã e ele próprio decidiram a desastrosa "solução" bicéfala para liderar o bloco. Que foi acatada a seguir pelo rebanho.
A cultura organizacional dos partidos da direita portuguesa é tão leninista como a da esquerda. Contudo, têm na sua história pelo menos dois momentos de algum fôlego de baixo para cima capaz de derrubar poderes instalados: a eleição de Cavaco no congresso da Figueira da Foz, em 1985, e a de Paulo Portas em Braga, doze anos depois. Nestes casos, o selectorado não cabia num sótão ou numa loja.
Chegados aqui, resta-nos olhar para o actual processo de primárias do PS. Segundo números do início desta semana, ainda não definitivos, vão poder participar na escolha do candidato socialista a primeiro-ministro quase 240 mil pessoas (93 mil militantes e 146 mil simpatizantes). Estes números estão muito longe dos das primárias recentes do centro-esquerda em França e Itália mas, mesmo assim, impõem respeito. Nunca houve um selectorado tão grande em Portugal.
Caso as coisas corram bem ...
... não se vê como o PSD e o CDS possam escolher os seus futuros chefes de maneira diferente desta.
Este texto merecia um bom debate.
ResponderEliminarAbre uma discussão interessante e levanta questões políticas.
Assim:
1. Será que o futuro próximo do Partido Socialista será influenciado pelo significativo número de cidadãos inscritos como militantes ou simpatizantes que estão em condições de votar nas primárias do dia 28 de Setembro?
2. Independentemente do resultado (líder, programa…) o PS voltará a ser o mesmo? Ou seja o equilíbrio entre as várias facções (liberais, republicanos, sindicalistas, maçónicos…) continuará a existir? Dificilmente…. pois camaradagem é palavra que deixou o léxico socialista.
3. Que representam esses cerca de 250.000 simpatizantes? Sindicatos de voto? Pessoas de livre e boa vontade? Fidelidades pessoais?
4. E o que vai mudar? Mais intervenção dos militantes, mais empenho na discussão das propostas ou o habitual silêncio e missa com o vencedor.... Os sinais de carreirismo e clientelismo dos "“habituais” senadores não têm sido um bom indicador. Nada como uma “boa moral de defesa” das classes trabalhadoras, como tem sido tão evidenciado pela política da UGT.
4. E em termos ideológicos? A descaracterização ideológica, iniciada e acelerada, com Sócrates não parece ter fim. Está cada vez mais claro que há muita gente no PS que alinha e defende as teses da direita conservadora.
5. E a esquerda está preparada para optar por uma nova forma de fazer política e de exercer o poder? Neste contexto torna-se cada vez mais difícil entender as posições intransigentes do PC e Bloco face a um entendimento mínimo para a construção de uma solução de governabilidade à esquerda. Recuso acordar um dia sem alma, sem convicções, sem sonhos e, sobretudo, sem país.
Resta-nos esta ideia (fascinante) de recuperar o "Perdoa-me"!!!!
Li num jornal uma adaptação do poema do António Aleixo, que transcrevo:
Uma Mosca sem valor
pousa com a mesma alegria
nas desculpas de um ministro
como em qualquer Porcaria
Conclusão: Estejam as hostes descansadas, se isto correr bem no PS, o pessoal do PPD e CDS vão poder “botar” num líder ungido, não num sótão ou missa, mas na democracia electrónica…
Atenção aos próximos capítulos.