A pá e a corda *

* Texto publicado hoje no Jornal do Centro




1. "O Bom, o Mau e o Vilão" é um filme de Sergio Leone interpretado por Clint Eastwood (o bom), Eli Wallach (o mau) e Lee van Cleef (o vilão).

Este western-spaghetti é muito conhecido pela música de Ennio Morricone, música onde “ressoam” os gritos das hienas. Bichos apropriados para esta história atravessada pela guerra civil norte-americana, história de traição, violência e ganância. Ao longo de quase três horas, a acção “dirige-se” para um enorme cemitério cheio de soldados mortos. Numa sepultura entre milhares, em vez de ossos, há ouro. Qual delas? Quem vai ficar com o ouro?

Acha-se facilmente no YouTube uma sequência fabulosa deste filme: o "trielo" final. 



Mais bem dito: não é um "trielo", é um duelo entre o Bom e o Vilão, já que o terceiro atirador, o Mau, tem, sem saber, a sua pistola descarregada. Depois de o Vilão morto, fica uma sepultura cheia de ouro para escavar.

É então que Clint Eastwood, o Bom, diz ao Mau uma das frases mais citadas da história do cinema: «Há duas espécies de pessoas no mundo, meu amigo: as que têm as armas carregadas e as que escavam. Tu escavas.»

Há vinte anos, na tragédia dos Balcãs, a "Europa" foi apanhada com as armas descarregadas. Agora, na crise da Ucrânia, a mesma coisa. Se as coisas correrem mal, à ”Europa” só resta, mais uma vez, pegar na pá.

2. O filme tem uma outra frase que faz eco com a citada: «Há duas espécies de pessoas no mundo, meu amigo: as que têm uma corda à volta do pescoço e as que têm de a cortar."

As câmaras do distrito com a corda mais apertada à volta do pescoço são as de Santa Comba Dão (248% de endividamento) e Lamego (205%).

Agora todos os dias se ouvem municípios não (tão) endividados a carpirem-se por estarem a ser transformados na Alemanha das câmaras falidas. Uma coisa é certa: alguém tem de cortar aquela corda à volta do pescoço de Santa Comba Dão e de Lamego.

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