(Um grande cabrão...)
Imagem de Fernando Esteva Medina |
Dito isto, talvez fique também explicado porque é
que, por exemplo, uma certa ocasião, um dia em
que recebi de manhã o vale de correio do meu pai,
julguei sentir-me rico e ter uma alma apodrecida e
capitalista e fui deliberadamente ao Café La
Rotonde beber champanhe e ali, sem que
naturalmente ninguém se pudesse aperceber disso,
dediquei-me a desforrar-me interiormente e a
flartar com a minha mente e ir transformando-a
numa mente monstruosa – hoje vejo-o com muita
nitidez – tentando não desaproveitar todas as
possibilidades de ser um grande cabrão, que eu
dizia para comigo que podia ser, se quisesse.
Enrique Vila-Matas
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