A limpeza das mãos

* Texto publicado hoje no Jornal do Centro


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O cardeal patriarca de Lisboa, numa recente entrevista ao Jornal de Notícias, afirmou que ninguém sai da política “com as mãos limpas”. 

Esta generalização de D. José Policarpo teve muito impacto nas redes sociais. Ferveram comentários no Facebook e no Twitter. As pessoas saltaram com rapidez do tópico “mãos limpas” para o tópico “bolsos cheios”. Dos políticos, claro.

Ao não distinguir os políticos sérios dos políticos corruptos, D. José Policarpo fez-lhes o que Simon de Monfort fazia aos cátaros no século XIII quando gritava para os seus soldados: “Matai-os a todos, Deus reconhecerá os Dele!” 

Convém lembrar que ter “as mãos limpas” não é necessariamente bom, ter “as mãos sujas” não é necessariamente mau.

Simpatiza-se com “as mãos sujas” que enformam o barro negro de Molelos, não se simpatiza com “as mãos limpas” que assinaram o contrato dos contentores de Alcântara. 

Simpatiza-se com “as mãos sujas” que cortam os cachos nas encostas do Dão, não se simpatiza com “as mãos limpas” das negociatas do BPN.

Pode-se invadir o “terreno” de D. José Policarpo e lembrar que mais valia que Pilatos tivesse ficado com as mão sujas e não as tivesse lavado como é contado nos evangelhos.

Em 1948, Jean-Paul Sartre escreveu “As Mão Sujas” e é pena ele estar agora fora de moda e ninguém levar essa peça à cena. Sentados no teatro, podíamos talvez perceber melhor a matriz sartriana deste pensamento do patriarca de Lisboa.

Uma coisa é certa: é bom que a afirmação de D. José Policarpo não afaste ainda mais as pessoas da política. É que quanto mais cidadãos “sujarem as mãos” na política mais esta poderá ser limpa.

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