Nem sempre o corpo se parece
Imagem daqui |
Nem sempre o corpo se parece com um bosque, nem sempre o sol atravessa o vidro, ou um melro canta na neve. Há um modo de olhar vindo do deserto, mirrado sopro de folhas, de lábios, digo. Eugénio de Andrade |
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Nem sempre o corpo se parece com um bosque, nem sempre o sol atravessa o vidro, ou um melro canta na neve. Há um modo de olhar vindo do deserto, mirrado sopro de folhas, de lábios, digo. Eugénio de Andrade |
As palavras
ResponderEliminarSão como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.
Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.
Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.
Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?
Eugénio de Andrade