Saudade da rua


     A rua dos centros comerciais é limpa, ordenada, brilhante, climatizada, segura.
      A rua dos centros comerciais é um refúgio abstracto.







      

     A rua dos centros comerciais não tem rasuras, nem cicatrizes.
     A rua dos centros comerciais não tem cheiros, nem luzes, nem sons não programados. 



     


     A rua dos centros comerciais tem saudade da rua. 













Comentários

  1. A Rua dos Centro Comerciais.. não é rua, porque o Centro Comercial não é cidade. Passa por receber encontros e desencontros furtuitos, ou não, passa por receber variadas pesoas em variados horários, mas sempre dentro de um "seu" horário! Aquele em que "abre" e posteriormente "encerra". A cidade não tem horários de encerramento, a cidade e as ruas da cidade estão e são abertas, são livres para a intempérie e para o normal tempo. Chuva, vento Sol, frio, calor, dia noite, todos passando pelas ruas da cidade pois que em Centro Comercial "ambiente" não entra, porque há o "ambiente de Centro" sujeito a climatização forçada!, sujeito a normalização/formatação. Sabe-se o tempo que fará em qq dia do ano dentro de um Centro Comercial. E busca-se a fuga aí, como se chuva não fosse algo natural com que lidamos há milhares de anos... Esquecemos a cidade porque nos esquecemos enquanto pessoas.. de que o somos!! Procuramos botox(s) espaciais para sentirmos o asséptico que nos despreza. Curiosamente a estruturação dos Centros Comerciais de maior sucesso repete a cidade, via praça, largo, hierarquia...
    Raio de cultura instalada que nos faz esquecer o mercado urbano (é ir a Paris e participar de um "mercadinho de rua") que nos faz esquecer do que é ser urbano! Fugimos da cidade para fugirmos de nós! Pensamento urbano.. que é isso?
    Seguramente é fast-thinking...
    gd abraço
    Rogério Lopes

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  2. No centro comercial não há soluções de continuidade, não há cicatrizes, o dispositivo cénico camufla, ilide os azares comerciais e o trânsito dos vários projectos comerciais porque "the show must go on".
    Neste caso, brilhante, é o centro comercial , ele mesmo que, na lacuna de uma loja comercial fechada, põe um painel a retratar uma parede de rua, de cal estalada, uma "bicicleta" encostada, portadas azuis empenadas, numa meta-linguagem irónica e genial.
    Quando passei, sorri, tirei o telemóvel para fotografar e paartilhar aqui esta história.
    Abraço

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