Há mais uma torre na colina da Sé de Viseu (#3)

     Da pré-existência da excrescência * ...

Antes:

Agora:
     A primeira fotografia foi proporcionada a este blogue pelo arquitecto Alexandre Maia, o responsável pelo projecto, o que se agradece.
     Na mesma altura, o arquitecto afirmou o seguinte:
     «O nosso projecto respeitou integralmente a cércea já existente.
     Obviamente que nesta fase da obra, somente com betão "puro e duro", até eu fico apreensivo.
     Estou certo que o resultado final será outro e que os acabamentos previstos bem como a pormenorização idealizada para a cobertura ajudará a minimizar o impacto visual.»

* Há, junto do IGESPAR—Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico, questionamento acerca desta construção que está a decorrer adjacente à Praça D. Duarte, no centro histórico de Viseu.

Comentários

  1. Caro Alexandre

    Enquanto colega agradeço o desabafo ".. até eu fico apreensivo"! Igualmente louvo a atitude e a humildade de quem pelo verbo mostra seguramente entender que percebe quem ficou apreensivo e como tal se manifestou!

    Olhando para a foto do anterior, que é como recordo o imóvel, continuo com o postular sobre as excrecências antes existentes e que quanto a mim, seguindo a prática e o indicado pelos "homens" do ICOMOS, perderam a possibilidade de serem extirpadas para conferir ao edifício úm máximo de "verdade espacial" que um lugar como a Praça D. Duarte merece! Apenas isso! ;-)

    Entretanto segue "aquele abraço"
    R. Lopes

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  2. Temos que acreditar e confiar que as medidas foram bem tiradas e que tudo irá ficar quase "igual", respeitando os direitos adquiridos.
    AC

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  3. Saudações estimado AC

    Como sabe para o ICOMOS e outras instituições que avaliam o Património Colectivo, os direitos adquiridos são sobretudo do foro do colectivo e não apenas do Privado!
    É até perigoso entrar-se num legalizar tudo o que no tempo se deixou arrastar. Criam-se hábitos e tendências que são catastróficas a médio e longo-prazo.
    Para não penalizar os "privados" há medidas compensatórias há uma data de procedimentos que resultam num respeitar destes e tb em favor do Bem Público.

    AC, como sabe apesar de "novo" o ficar "igual" por vezes é péssimo pois perpetua o erro, e transmite-o culturalmente!! E a existência daquela manta de retalhos feita chapéu é no meu entender(seguindo o pensamento presente em Instituições reputadas que decidem em matéria de Património da Humanidade como o ICOMOS)um mau exemplo do e no "manter"!!

    Há ainda o problema da descompensação do quarteirão quanto à questão de risco sísmico!!Uma construção não tem o direito de se sobrepor como massa e com isso fazer perigar a envolvente!! É um direito estabelecido, um outro direito, que assiste a privados/vários que no presente são a envolvente de quarteirão! Há que respeitar o direito dos outros, e não posso citá-lo como direitos adquiridos, porque são-no por direito efectivo e não pelo resultado do arrastar da "coisa" no tempo!

    Como Viseense sou Europeu convicto, pelo que aprecio a acção pela positiva! Se há que extirpar o erro... extirpa-se, ..obviamente respeitando a propriedade privada, ..para isso há formas compensatórias estabelecidas inclusive em e por normativas!
    Muita construção clandestina foi extirpada (mandada extirpar) pelo Engº Pimenta (para mim o "Pimentinha" dos tempos do IST) qd Secretário de Estado do Ambiente.. ou seja o ilegal não foi legalizado porque não servia o Bem Colectivo!! É esta a minha postura, em especial (relembro) qdº há todos os instrumentos (Normativas e Meios) para não se lesar o privado nem descurar o Bem Publico! Mas há que ter atenção ao que se pensa como "direitos adquiridos".. pode ser perigoso um estabelecimento de tal enquanto afirmação! Podemos cair num legalizar toda a vilanagem construtiva! No seu tempo e a bem do Ambiente lembro sempre o Engº Pimenta! Haja pois à imagem alguém que assim actue em termos de Centros Históricos!!

    Qtº ao ficar quase igual e como já referi noutro espaço do Blogg, é como dizer que a "torre da caixa" a ser reconstruída daqui a 80 anos terá imperativamente de respeitar a altura e volume que apresenta no momento (e esta até é totalmente legal, não foi resultado de uma manta de retalhos sem registos construída no tempo).. a Cidade é mais do que isso, pelo que não devemos nunca esquecer os meios de proteger a mesma, bem como quem a constitui ...as pessoas, os "privados"!!
    Qtº às medidas.. e ao ficar quase igual... não deixo de confiar, é por acreditar que fiquei mesmo muito assustado! Aprecio o respeito pelo "genius locci" e não pela museologia, um piso mais, um remate diferente numa cobertura algo mais elevada (bem feitos), não implicam seguramente um desrespeito pelo espírito do lugar ou um estragar, são até louváveis por vezes! No caso, o edifício como se apresentava antes já estragava..apenas isso!
    gd abraço
    Rogério Lopes

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  4. Permitam-me discordar relativamente ao prédio da caixa e ao "genius loci".
    Passo a explicar:
    1.Importa aqui ressalvar que o genius loci não é mais do que o lugar habitado pelo homem.
    Esta expressão adoptada pela Teoria da Arquitectura, tão sabiamente estudada por Christian Norberg-Schulz, é "tão só" uma abordagem à consciência em geral, independentemente das ideologias de cada um. Na minha modesta opinião, julgo que vale mais ter consciência de algo do que não ter.
    Entendo esta intervenção (prédio da caixa) como um "fenómeno", caracterizado no tempo e no espaço, resultado de uma interpretação (errada ou não é discutível!) do seu autor.

    A expressão genius loci diz respeito, portanto, ao conjunto de características sócio-culturais, arquitectónicas, de linguagem, de hábitos, que caracterizam um lugar, um ambiente, uma cidade… independentemente da visão de cada.
    É errado por isso tentar que a nossa visão seja a mais acertada....

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  5. Caro anónimo das 10:11
    O seu comentário é muito estimulante.
    Por curiosidade, na minha página do FB houve um debate muito bem-disposto sobre este post do Olho de Gato que meteu "xadrez", "claustrofobia burocrática"e etc.
    Não vou, evidentemente, trazer para aqui para um lugar público o que os meus amigos do FB disseram sobre o "prédio da caixa", mas vou copiar o que eu disse (retirando elementos que possam identificar os meus interlocutores):
    1.
    Oh caro XXXXXXX, com que então a meter-se com o nosso espécimen de "arquitectura internacional"?
    Quer despojar a cidade daquele testemunho funcionalista?
    Quer fazer uma de Christo com baldes de Robbialac azul?
    Muito reprovável, meu caro, muito reprovável.

    2.
    Cara XXXX o meu "funcionalista" é uma referência a um período da história da arquitectura, não é burocrático.
    :P

    Pena não poder passar para aqui as réplicas e tréplicas dos meus interlocutores que têm muito mais qualidade que as minhas.

    Abraço do
    Joaquim Alexandre Rodrigues

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  6. Saudações
    Sobre Genius loci, que nos meus diversos posts (aqui e em FB) sempre referi como "espírito do lugar":
    A expressão muito querida a mim e a Aldo Rossi (por ex.)refere-se ao carácter de um lugar, às relações com o seu entorno, às características socio-culturais, hábitos etc.
    Daí que a consciência que refere e que se deve ter... e que subscrevo, ser algo que me é muito querido. No caso, a consciência de ruptura com a linha de cidade que a "torre da caixa" proporciona. Lembrar tb o desajustado da estrutura urbana em relação à escala do edificado, por exemplo! Podemos sempre dizer... provoca ruptura etc etc ... ou seja, sermos conscientes de tal. Creio que somos todos! :-))

    Só que, sorry mas, tenho muito medo das interpretações de "autor"! Sempre preferi a autoria partilhada como resultado de uma intervenção partilhada, um pouco no espírito de Christopher Alexander e nos cuidados de Sommer. A interpretação individual de algo é interessante e estimulante na arte, na filosofia, ou seja no e como acto do conhecimento! Mas na cidade há que ter um especial cuidado para não condenarmos uma sociedade, um local, uma urbe, a interpretações (do momento e tb futuras) desajustadas da respectiva contemporaneidade!

    Fujo do conceito "tradicional" de "AUTOR" em intervenção urbana! É do conhecimento de hoje (pois tal esteve esquecido durante décadas recentes)que a intervenção urbana deverá respeitar o Ser Humano e o Ambiente e como tal ser fruto de uma acção de interdisciplinaridade: geógrafos, historiadores, sociólogos(em particular gente da "sociologia da mutação-urbana"), antrópólogos, engenheiros (não esquecer tb a engª de transito),psicólogos sociais, devem ser chamados à atitude/intervenção junto com urbanistas e arquitectos. Só assim, com o que conhecemos agora para podermos fazer melhor cidade, e não apenas "mais cidade"!

    Fazer cidade não deverá resultar em deixar um ou mais autores actuarem no total livre arbítrio, e termos como resultado numa determinada época uma intrepretação quanto a mim desastrosa (torre da caixa), mas sim uma atitude séria, sustentável resultante de uma gestão urbana que promove a cidade e os seus ambientes!! (lembro a intervenção recente em Santiago de Compostela, i.e. o modo como surgiu um plano de gestão e desenvolvimento urbanos).

    Daí que numa postura algo Popperiana sempre actuo ou intervenho em sequencia a um debate para não quedar no "erro de autor" com a sua e apenas a sua visão (mais ou menos restrita). Na cidade há que ter atenção (lembrando Elster) às intercomparações pessoais de bem-estar, e numa cidade... onde é que não existem confrontos(visuais, estéticos, sociais/..etc)observações, marcações?? Apenas no seio do privado dentro do privado i.e. (por definição :-)) o quarto pessoal de cada um).

    Não sei a que refere como "visão acertada" pois uso óculos bem graduados, pelo que não a tenho sem a referida prótese. Sei que ideia de cidade deve existir para melhor fruir o espírito de cidade, e para existir ideia de cidade tem de existir ideia de sociedade e para mim de sustentabilidade e respectiva ecologia-social!

    Há já mais de 40 anos Friedman(Yona) e Wogensky, entre muitos outros debruçaram-se sobre os efeitos da cidade no comportamento humano. Foram quase esquecidos pelas escolas "nacionais" de arquitectura. Contudo há que lembrar o vigor de análises que se aplicam hoje como então. Tzons teve com Alexander um trabalho publicado bem interessante.. Mas indo mais atrás no tempo lembraria o trabalho de David Hume(1739) e a "Natureza humana".

    Isto tudo porque... a cidade como lugar social, como habitat, como..., é demasiado séria para ser entregue apenas ao desenho e "sentir" de alguns urbanista e arquitectos..
    Cai-se em erros assim mais frequentes, e ensina-se, condiciona-se o pensar, o agir.. para um agir mal um sentir mal um pensar mal.. só que como socio-culturalmente como versão correcta.
    Um grande abraço a tds
    Rogério Lopes

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  7. Não me cabe a mim "defender ou não" o referido prédio da caixa, nem tão pouco o seu autor!
    No entanto não consigo proferir tanta crítica (positiva ou negativa) acerca do projecto, pois ele deverá ter sido resultado de um trabalho de equipa entre autor e cliente, no respeito pela envolvente. Assim sendo, existem uma série de pressupostos que não conheço, levando-me ao benefício da dúvida.
    se o genius loci é "espírito do lugar", nenhum lugar é sem um Génio...

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  8. :-) Venha então o Génio para dar espaço à lampada, dispensamos desde hoje o Aladino!!
    :-)

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