O gato melómano


Outubro 

Caroço de tempestades,

Nó de cobras ardentes,

Este é um mês de chuvas cálidas 

E de ventos. 

Subversivo ao calendário,

Fruto amargo 

Na colheita ancestral. 

É sempre outono

Em outubro, 

É sempre vento. 

Nenhuma cintilação, 

Somente o escuro 

E no escuro esta sombra,

Graciosa e febril, 

Dançando à luz dos raios 

— o canto áspero

E o pescoço 

Carregado de contas. 

É sempre guerra

Em outubro, 

Sempre vermelho e azul. 

Sempre pendões na ponta

Das estacas

Desse campo minado 

A que chamamos destino. 

Myriam Fraga

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