Que me quereis?

Fotografia de Jiří Horák

 

Que me quereis, perpétuas saudades?

Com que esperança ainda me enganais?

Que o tempo que se vai não torna mais,

e se torna, não tornam as idades.


Razão é já, ó anos, que vos vades,

porque estes tão ligeiros que passais,

nem todos para um gosto são iguais,

nem sempre são conformes as vontades.


Aquilo a que já quis é tão mudado

que quase é outra cousa; porque os dias

têm o primeiro gosto já danado.


Esperanças de novas alegrias

não mas deixa a Fortuna e o Tempo errado,

que do contentamento são espias.

Luís Vaz de Camões


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