Na tua boca

 

Fotografia de Paul McDonough



Na tua boca cantou subitamente uma voz. E, ao dizeres 

o meu nome na rede de um abraço, o rio que outrora 

bordava o campo emudeceu com as suas pedras lisas.

Então, foi possível

ouvir o vento soprar nas asas das borboletas e os 

lagartos recolherem-se nos veios dos muros e o sol 

ferir-se nos espinhos das roseiras.

Sobre a colina quente passou uma nuvem

e uma ave poisou, perplexa, no fio do horizonte
-
por um instante, o dia mostrou as suas pálpebras tristes;

e, na brancura cega desse entardecer, a tua mão 

escorregou pela inclinação do sol e veio contar as 

sombras no meu decote.

São assim as mais pequenas histórias do mundo.
Maria do Rosário Pedreira



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