As águas e o almirante*

 * Hoje no Jornal do Centro

1. Em 2017, vimos o fundo à barragem de Fagilde. Foi preciso recorrer a camiões-cisterna para que o precioso líquido corresse nas torneiras de Viseu, Mangualde, Penalva do Castelo e Nelas. Passaram sete anos. O problema não está solucionado. Pior: as câmaras municipais daqueles quatro concelhos continuam a puxar cada uma para seu lado.

Fotografia Olho de Gato

O dr. Ruas parece determinado a entregar o abastecimento da água de Viseu a uma empresa do norte — a Águas do Douro e Paiva SA.

Inicialmente, o presidente da câmara de Viseu pensou trazer o precioso líquido num cano quilométrico de 72 milhões de euros desde César, em Oliveira de Azeméis (altitude - 300 metros), até ao Bairro Norad, em Viseu (altitude – 500 metros). Não se sabe se já desistiu desta ideia inecológica e cara.

Agora, há sinais de que o presidente da câmara de Viseu quer entregar à mesmíssima Águas do Douro e Paiva SA a exploração da nova barragem de Fagilde. Barragem que, soube-se no início desta semana, vai ser construída cem metros a jusante da actual, vai custar 30 milhões de euros, dos quais metade já estão garantidos por verbas da região centro. Dinheiros do centro, não do norte.

A região tem técnicos competentes e duas boas bacias hidrográficas — a do Vouga e a do Mondego. Faz algum sentido perdermos o controlo sobre o preço e a qualidade da água que vai correr nas nossas torneiras?


2. Regressemos a 3 de Fevereiro de 2021. Lembra-se como estava a ser feita a vacinação contra a Covid? Recorda-se como os vips e os amigos dos vips furavam a fila e passavam à frente dos velhos? Foi nessa data que Gouveia e Melo tomou conta do assunto, o desatascou do lamaçal em que tinha caído, e tornou o país um pouco mais decente.

Três meses depois, quando o ministério da saúde da inefável Marta Temido quis fazer “uma aceleração do processo de vacinação em Lisboa”, o almirante pôs logo ordem na casa. Depois desse episódio fiquei com uma certeza que partilhei logo aqui com os leitores, em 29 de Maio de 2021: Gouveia e Melo “não é um boy e, portanto, corta a direito; é um nome a ter em conta para as próximas eleições presidenciais.”

Se quiser avançar, o almirante vai mesmo cortar a direito no eleitorado dos comentadores da SIC e da TVI de domingo à noite.

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