Um fungo*

* Hoje no Jornal do Centro

Eis a melhor coisa que está a acontecer a Viseu neste bissexto ano de 2024: o “BEIRA – Observatório de Ideias Contemporâneas Azeredo Perdigão” está a realizar um ciclo de quatro conferências, uma por estação do ano. Em  cada uma delas, um filósofo de topo e mais alguns especialistas reflectem e debatem com a assistência sobre um problema bicudo dos nossos dias. 

Já aconteceram três: 

(i) em 16 de Março: “A Democracia: Impasses e Desafios”, com Daniel Innerarity; 

(ii) em 15 de Junho: “Inteligência Artificial e Inteligência Natural”, com Maurizio Ferraris; 

(iii) em 14 de Setembro: “Novos Fanatismos na Era do Hiperindividualismo?”, com Gilles Lipovetsky, José Pacheco Pereira, Maria João Marques e Manuel Maria Carrilho.

Para que todos os participantes estejam à vontade, estas sessões estão sujeitas às regras de Chatham House, todas as ideias lá partilhadas, sejam elas controversas ou não, podem e devem ser divulgadas, mas sem identificação dos seus autores.

Portanto, não vou dizer aqui quem, no último sábado, tratou das “figuras do extremismo contemporâneo”, dos “fanáticos do mercado”, dos “conspiracionistas”, da “história a andar para trás”, “do “tribalismo político”, da “doença woke”, dos “tecnolibertários” de Silicon Valley, dos “jiadistas do ocidente”, …

Fotografia Olho de Gato

Mas posso dizer-vos que Lipovetsky, Pacheco Pereira, Maria João e Manuel Maria se atardaram num tema: Donald Trump. Tivemos quatro pessoas que pensam bem focadas numa criatura que não pensa. É uma melancolia. É o “ar-dos-tempos”.

Hannah Arendt, em “Eichmann em Jerusalém — Uma Reportagem Sobre a Banalidade do Mal”, explica-nos este cataclismo: o mal que Trump representa está a “assolar o mundo inteiro”, está a “invadir tudo” porque se espalha “como um fungo”.

Já faltam menos de dois meses: em 5 de Novembro vai saber-se se Donald Trump regressa, ou não, à Casa Branca. Seis dias depois, no dia de S. Martinho, em Viseu, na quarta e última conferência organizada para este ano pelo BEIRA, vamos ter o filósofo alemão Peter Sloterdijk a ajudar-nos a pensar. Desconfio que naquele dia, mais uma vez, vão chover referências ao “fungo”. 

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