Carta de amor

 A Eugénio de Andrade


Um dia destes

vou-te matar

Uma manhã qualquer em que estejas (como de

costume)

a medir o tesão das flores

ali no Jardim de S. Lázaro

um tiro de pistola e ...

Não te vou dar tempo sequer de me fixares o rosto

Podes invocar Safo Cavafy ou S. João da Cruz

todos os poetas celestiais

que ninguém te virá acudir

Comprometidos definitivamente os teus planos de

eternidade

Adeus pois mares de Setembro e dunas de Fão

Um dia destes vou-te matar

Uma certeira bala de pólen

mesmo sobre o coração

Jorge Sousa Braga


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