Cacharolete d’assuntos (#5)*

* Hoje no Jornal do Centro, nas bancas e aqui

1. Luís Montenegro tem seguido à letra o conselho que Álvaro de Pais deu ao Mestre de Avis em 1384: «dai aquilo que vosso não é e prometei o que não tendes».

É verdade que o primeiro-ministro já não tem de temer Castela, mas não é menos verdade que já derreteu o pecúlio que herdou do anterior governo e agora está a prometer o que não tem.

Fotografia Olho de Gato

2. Este ano a Feira SEM Mateus abriu a 1 de Agosto (nunca tinha acontecido tão cedo) e fecha no próximo domingo, 8 de Setembro (duas semanas antes do dia do santo).

Ao que se sabe, esta antecipação pretendeu dar resposta à procura dos emigrantes. Ora, como explicou ao JN um feirante com décadas de experiência, os emigrantes primeiro “procuram as praias. Só na segunda semana em Portugal é que vêm para a feira. Já os viseenses só vêm em Setembro”.

Dr. Ruas, devolva a feira ao S. Mateus, faça-a durar até 21 de Setembro. Dar facadas na história da cidade nem para o negócio é bom.


3. No início desta semana o dono do X/Twitter explicou que “o algoritmo do X assume que se interagires com determinado conteúdo, tu queres ver mais desse conteúdo.”

Em poucas palavras, Elon Musk descreveu como funcionam as redes sociais: os utilizadores são enclausurados nos assuntos e nos valores que os algoritmos acham que eles preferem. Depois, tudo fora daquela bolha passa a ser hostil, polarizado, tribalizado. É bom para as guerras entre “fachos” e “wokes”. É péssimo para a democracia.


4. Logo em Outubro do ano passado, quando foi fundada a “Aliança Sahra Wagenknecht”, antevi aqui que aquele partido unipessoal ia ser um furacão na política alemã.

Só foi preciso esperar pelas eleições de domingo na Turíngia e na Saxónia. Votos contados, só haverá governos naqueles dois Länder se tiverem a participação da BSW (sigla alemã daquele partido com menos de um ano).

Ainda não há nada parecido na política portuguesa. Para além de assumir ideias costumeiras nas esquerdas radicais (mais investimento público e menos “Europa”, mais Putin e menos Ucrânia), Sahra quebra dois tabus:

— defende o fim das portas abertas à imigração;

— despreza os, como ela diz, “esquerdistas de estilo de vida”, sempre muito preocupados com assuntos imateriais e nada com a vida concreta dos trabalhadores e dos pobres.


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