Portugal dos pequenitos*

* Texto publicado no Jornal do Centro há exactamente dez anos, em 26 de Setembro de 2014

1. A urbanização difusa das últimas décadas fez crescer os subúrbios, multiplicando bairros à volta das cidades, que, estranhamente, continuam ausentes do discurso e das preocupações dos decisores locais e da comunicação social.

Procuremos exemplos disso no concelho de Viseu: não têm conta as proclamações, opiniões, movimentações, planos, para o quase desabitado Bairro da Cadeia, que toda a gente parece querer transformar numa espécie de Portugal dos Pequenitos.

Já quanto aos bairros de Rio de Loba ou de Abraveses, onde vivem milhares e milhares de pessoas a precisarem de melhor qualidade de vida, não há nada. Ninguém quer saber. Estão fora do octógono da propaganda municipal.

2. Os congressos distritais dos partidos têm sempre pouco impacto fora dos aparelhos e os media costumam ignorá-los olimpicamente. O que lá é dito e aprovado é irrelevante e fica em circuito fechado, para os presentes e com os presentes. Ser assim é da natureza das coisas, como as chuvas no verão prenunciarem míscaros com fartura no outono.

No domingo passado, na sequência da eleição no PS de António Borges como líder distrital, aconteceu no Instituto Politécnico de Viseu o respectivo congresso instalador dos vários órgãos distritais.

Ora, estes "eventos", mesmo sendo como se disse politicamente nulos, têm os seus rituais. Nos congressos, como se sabe, o que se passa designa-se sempre como "trabalhos" e os "trabalhos" iniciam-se com o "discurso de boas-vindas" do anfitrião.


Fotografia achada no Facebook
de António Borges
No domingo, no "novo" PS-Viseu, não houve tal coisa. O recém-eleito líder distrital calou o bico à também eleita presidente da concelhia de Viseu. O segurista António Borges não deixou que a costista Adelaide Modesto dissesse a meia dúzia de palavras habituais de boas-vindas aos congressistas.

Para ilustração da pequenez sectária da "nova" distrital do PS não está mal.

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