Cheiros*
* Hoje no Jornal do Centro, nas bancas e aqui
1. Luís “Alvise” Pérez é um influencer espanhol, com milhões de seguidores nas redes sociais, que acaba de obter 800.763 votos nas eleições europeias e eleger três eurodeputados.
A sua plataforma política, denominada “Se Acabó la Fiesta”, foi feita toda online, quer a recolha em duas semanas de 15 mil assinaturas para a legalização, quer o financiamento, quer a campanha.
“Acabou-se a Festa” é um movimento populista de extrema-direita maioritariamente masculino e jovem. Formatados no TikTok, no Instagram, no Telegram e afins, os putos que foram votar pela primeira vez fizeram-no em força em “Alvise”, a quem chamam “Batman” (alcunha 1) porque o acham o “flagelo dos políticos” (alcunha 2). De facto, a sua conversa lembra a de dois populistas sul-americanos: o argentino Javier Milei e o salvadorenho Nayib Bukele.
Esta malcheirosice também vai cá chegar.
2. Início do Verão. Dias grandes, noites pequenas. As tílias lançam o seu perfume intenso sobre os amores de verão, sobre os amores de todas as estações. Respiremos fundo e lembremos o poema (Para um) Olhar, de João Luís Oliva, de que deixo aqui os versos iniciais:
“Não regresso a um lugar que julgue meu
nem a um tempo povoado de sinais.
Cruzo viagens em direcção a uma utopia
imemorial.
Mesmo que as tílias ainda cheirem a tília
(cheirar a tília é, afinal, o destino inexorável das tílias...).
Há lugares e tempos que só quero ver com um olhar
construído noutros sítios, a des-horas.
Não de olhos inutilmente abertos.
Ir além de corredores que se ajoelham em altares,
de ruas que desaguam em igrejas,
de bairros que se esgotam em paróquias. (…)”
Depois o poeta segue o seu caminho luminoso até às suas raízes.
Eu aqui sigo um outro que se atarda nos bairros e nos arruamentos novos de Viseu, onde, nestes dias grandes e nestas noites pequenas, não há o cheiro solsticial das tílias. A câmara, em vez da árvore identitária de Viseu, continua a preferir plantar choupos, esses eucaliptos urbanos insípidos e inodoros.
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