Uma peta*

* Texto publicado no Jornal do Centro há exactamente dez anos, em 16 de Janeiro de 2014

1. O orçamento municipal para 2014 em Viseu é um desapontamento, contudo o PS, o CDS e o PCP abstiveram-se na sua votação na assembleia municipal. Ficaram-se por um “nim” cinzento e átono perante um orçamento que, ao contrário do que vinha a fazer Fernando Ruas, aumenta as despesas correntes em vez de as diminuir.

Politicamente, os quatro vereadores da oposição deixaram-se emparedar, a sua voz não chegou a lado nenhum sobre este assunto. 


Foram muito vocais perante alguns milhares de euros da festa de fim-de-ano, perante os milhões do orçamento afonizaram.

Merece referência a clareza política de Carlos Vieira do bloco de esquerda, o único deputado municipal que votou contra um orçamento que, só em taxa de resíduos sólidos, prevê fazer pagar aos viseenses mais um milhão de euros do que pagaram em 2013.

2. Como é sabido, José Sócrates embaralhou-se todo sobre o que fez durante o heróico Portugal – Coreia, em 1966. Disse ele na televisão que ia a caminho da escola enquanto Eusébio e os magriços viravam o resultado. O problema é que o jogo foi num sábado à tarde de um 23 de Julho. Tempo de férias.

Como explicou Baudelaire, a memória é um palimpsesto, a memória é um pergaminho que se vai apagando para tornar a escrever por cima. Sem darmos conta “alteramos a história de cada vez que voltamos a recordá-la”, lembra Nassim Nicholas Taleb em “O Cisne Negro”.

Sócrates disse uma peta sobre o que aconteceu naquela longínqua tarde de Verão de 1966? Claro que sim. A si próprio.

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