O espelho da entrada

 


À entrada da mansão

havia um grande espelho muito antigo,

comprado pelo menos há mais de oitenta anos.


Um rapaz belíssimo, empregado de alfaiate

(e nos domingos atleta diletante)

estava ali com um pacote.


Deu-o a alguém da casa, que o levou para dentro

com o recibo. O empregado do alfaiate

ficou sozinho, à espera.


Acercou-se do espelho e mirou-se

para ajeitar a gravata. Após cinco minutos,

trouxeram-lhe o recibo e ele se foi.


Mas o antigo espelho, que vira e revira

nos seus longos anos de existência

coisas e rostos aos milhares;

mas o antigo espelho agora se alegrava

e exultava de haver mostrado sobre si

por um instante a beleza culminante.

Konstantinos Kaváfis [1930]

Trad.: José Paulo Paes




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