Politeísmo — sincretismo / crises de fé / formação de professores
Fotografia Olho de Gato |
1. Quando encontrei esta casa, numa aldeia beiroa, fiquei enternecido com aqueles dois signos que representam as duas religiões com mais fiéis em Portugal.
Até um sportinguista como eu olha com bonomia para este politeísmo que já foi por duas vezes sincrético — no par de ocasiões em que os lampiões foram treinados por Jesus, embora, da segunda vez, a fé dos benfiquistas não fosse muita.
2. Na adolescência, na exacta idade em que se costumam ter estas coisas, também eu tive a minha "crise de fé", acompanhada por algumas dores de crescimento pessoal, que depois passaram sem drama, nem trauma absolutamente nenhum.
Foi por alturas em que Salazar caía da cadeira que li o Porque Não Sou Cristão, de Bertrand Russel. Essa leitura, para os meus 14/15 anos, foi uma "epifania". Por duas grandes razões:
(i) — pela questão da fé: um professor de moral da Escola Industrial e Comercial de Viseu (hoje Escola Secundária Emídio Navarro) era tão besta, mas tão besta, que, por reacção, fez crescer uma geração de agnósticos / ateus / indiferentes / distanciados / laicos (riscar o que não interessa) e eu devo ter sido dos poucos, entre eles, que leu Bertrand Russel;
(ii) — pelo ir ao ponto: a clareza de Russel foi um maravilhamento e uma surpresa; há meio século, tudo o que era intelectual vinha de França e era escrito com o típico enrodilhamento francês.
Mais à frente, nos 16/17 anos, já no Magistério Primário, tive como professor um padre fascista (tinha sido membro do parlamento salazarista) que tornara obrigatório um livro seu, Cartas a um filósofo, tornando-o uma espécie de best-seller, mas o homem nunca disse aos seus alunos que aquela actividade epistolar medíocre era dirigida a Bertrand Russel.
Claro que fiz questão de o informar que tinha lido aquele livro do filósofo britânico, o que o deixou estupefacto, nunca tal lhe devia ter acontecido em centenas de alunos.
Mas aí, entre os futuros professores primários, já não havia tantos agnósticos / ateus / indiferentes / distanciados / laicos (riscar o que não interessa).
A formação de professores foi sempre ideologicamente muito vigiada.
Durante o PREC, em 1975, os Magistérios foram equipados com formadores de uma outra religião, que papagueavam materialismos dialéticos de terceira, incluindo o fatal Engels. Refiro-me aos então professores da escola, não aos alunos, ...
Esse "vigiamento" ideológico dos futuros professores prossegue, pelo que se vai entrevendo na produção "intelectual" dos actuais mestres pós-modernos do eduquês.
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