Anjo de papel ou de água?
Se Tu não voltares estes poemas hão-de tor-
nar-se trágicos. O texto vai revelar a
cicatriz de seda e os laivos claros do meu
choro. A contra-coração vou reescrevê-los.
Hei-de encontrar aqui uma placa lisa
para arrastar as letras até à regueira
turva. A imagem da água que era a de uma
simbiose entre Ti e a minha ideia de Ti
vai enegrecer. A podridão há-de
macerar o poema. Vou ser eu o autor
a quem a agonia devora juntamente
com um livro inerte. Quando Tu não
voltares eu saberei ler como um iluminado.
Os significados metafóricos levá-los-ei
até à ironia. A realidade levantá-la-ei
dessa valeta. Vai fascinar-me o torvelinho mor-
tal em que mesmo os poemas sem dor
sempre se desfazem. Quanto mais estes
em que se ostenta o Amor em páginas ás-
peras até eu perder a noção de estar presente.
Fiama Hasse Pais Brandão
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