Uma Europa pós-nacional*

* Texto publicado no Jornal do Centro há exactamente dez anos, em 28 de Março de 2013


1. O trabalho de Angela Merkel é tratar dos interesses dos alemães respeitando a constituição alemã. Quanto mais o dr. Soares disser mal da “senhora Merkel” (é assim que ele a chama), melhor ela estará a fazer o seu trabalho. A chanceler alemã não tem feito mais do que o seu dever.   

2. Isolado, nenhum país europeu tem a escala dos Estados Unidos, da China, da Rússia, da Índia, do Brasil, da Indonésia. Em 2025, nem tão pouco a Alemanha terá assento no G8. Já a União Europeia é o maior bloco económico do mundo e tem uma moeda que, apesar de tudo, se mantém forte e confiável nos mercados.     

3. Os problemas da globalização não podem ser resolvidos à escala nacional. As lavandarias cipriotas põem em risco poupanças inglesas, o ladrilho espanhol abana bancos alemães, um ataque da Al-Qaeda na Argélia torna os nossos banhos mais caros.

4. Daniel Cohn-Bendit e Guy Verhofstadt, no seu recente “Manifesto por uma Revolução Pós-Nacional na Europa”, defendem que as eleições para o parlamento europeu de 2014 devem ser constituintes, devem ser fornecedoras de legitimidade para a redacção de uma constituição europeia que rompa com a eurocracia e permita um governo europeu.   

5. A “Europa” precisa de um governo europeu democrático, eleito directamente pelos europeus, e que responda perante eles como Angela Merkel responde perante os alemães. Se for para isso, valerá a pena eleger deputados europeus em 2014. Se for para dar umas veniagas a “Correias-de-Campos” fora do prazo de validade, não vale a pena.

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