Aos que tugem, e mugem nos meus versos

Fotografia Olho de Gato


Soneto 41


Não me direis, oh vós, que em mim falais,

cães, para que ladrais, se não mordeis?

bestas, por que atirais, sem que acerteis?

porcos, sem que fosseis, por que roncais?


Se é porque versos faço, talvez mais

ou melhores, talvez, que os que fazeis;

brutos, para que deles maldizeis,

se os quereis, se os pedis, se os tresladais?


Eu creio que o motivo é um de dois,

ou inveja de ver que não luzis,

ou receio de arder nos meus foróis;


Pois cães, se voz não dou, por que latis?

bestas, se vos não pico, porque o sois?

e porcos, se comeis, por que grunhis? 

Tomás Pinto Brandão (1664 — 1743)

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