Concessão *

* Texto publicado no Jornal do Centro há exactamente dez anos, em 14 de Março de 2013


1. Umberto Eco, para explicar o truque retórico da concessão, exemplifica com cães, mas aqui, nesta coluna, isso tem que ser feito com gatos.

Imagine que queria argumentar a favor dos gatos. Seria assim: «os gatos afiam as unhas nos sofás, ficam caros em comida e veterinário, o pêlo deles espalha-se e causa alergias» (nesta fase da argumentação estava ganho o coração dos inimigos dos gatos), «mas os gatos são uma óptima companhia, as crianças adoram-nos, eles são muito limpos, um gato no colo é o melhor anti-stress do mundo». É persuasivo, não acha?

Contra os gatos trocava-se a ordem: começava-se por conceder que eles são uma óptima companhia, que as crianças os adoram, que eles são muito limpos e que um gato no colo é um magnífico anti-stress. A seguir, atardávamo-nos nos argumentos contra: unhas perigosas, sofás desfeitos, contas no supermercado e no veterinário, casa cheia de pêlo, tosses alérgicas.

Conceder funciona. Nas televisões que apoiam o governo, lembra Eco, é assim que se faz. Primeiro dá-se a voz à oposição sobre uma qualquer controvérsia e depois termina-se a notícia dando voz ao governo. Não é preciso calar a oposição, basta pô-la a falar em primeiro lugar. A razão fica sempre com quem produz os últimos argumentos.


2. Quando as coisas não saem bem à primeira, regressa-se ao assunto. Quanto mais não seja por exaustão dos interlocutores, há que ser o último a falar. É o que dr. Ruas está agora a fazer depois daquele desastroso “Centro Hospitalar 'Qualquer-coisa'-Viseu” que deixou Tondela ofendidíssima.

No Facebook, esta guerra de baptizados e rebaptizados foi uma festa. A “proposta” de nome mais hilariante que surgiu foi “Centro Hospitalar de Visela”.

Enfim... faça-se uma concessão: se o ministro trouxer para Viseu a radioterapia, ele que fique com a última palavra, isto é, que faça o baptizado que quiser.

Comentários

Mensagens populares