Tragam-me um homem que me levante com os olhos — [Cláudia R. Sampaio #7]



Tragam-me um homem que me levante com 
os olhos que em mim deposite o fim da tragédia
com a graça de um balão acabado de encher

tragam-me um homem que venha em baldes,
solto e líquido para se misturar em mim com a fé 
nupcial de rapaz prometido a despir-se
leve, leve, um principiante de pássaro

tragam-me um homem que me ame em círculos
que me ame em medos, 
que me ame em risos
que me ame em autocarros de roda no precipício
e me devolva as olheiras em gratidão de
estarmos vivos

um homem homem, um homem criança
um homem mulher
um homem florido de noites nos cabelos
um homem aquático em lume e inteiro
um homem casa, um homem inverno.

um homem com boca de crepúsculo inclinado
de coração prefácio à espera de ser escrito.
tragam-me um homem que me queira em mim
que eu erga em hemisférios e espalhe e cante.

um homem mundo onde me possa perder
e que dedo a dedo me tire as farpas dos olhos
atirando-me à ilusão de sermos duas
novíssimas nuvens em pé.
Cláudia R. Sampaio


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