A canção de Lena d'Água e os livros em Viseu*

 * No Jornal do Centro aqui

1. A invasão da Ucrânia fez regressar o medo do nuclear:  

— logo no início da guerra, dois aviões russos com armamento nuclear penetraram no espaço aéreo sueco;

— nos serões televisivos russos fala-se abertamente em arrasar capitais europeias.

Para além destes “agarrem-me-senão-eu-mato-os”, a que o Ocidente vai encolhendo os ombros, Putin passou mesmo aos actos e ocupou duas centrais nucleares ucranianas: a acidentada Chernobyl (de onde já saiu depois de ter saqueado equipamentos e causado danos superiores a 135 milhões de dólares) e Zaporizhzhia (onde tem entrincheiradas tropas e se prepara para roubar a produção eléctrica). 

Movimentação de soldados e explosivos em centrais nucleares é coisa de aprendiz de feiticeiro. Nunca tinha acontecido no mundo. Dito em linguagem cinematográfica: não há prequelas disto, espera-se que não haja sequelas. Um erro de cálculo, uma precipitação, uma provocação, e a vida de milhões de pessoas em risco.

Ora, como explicou Adam Taylor esta semana no Washington Post, apesar destes sustos na Ucrânia, a energia nuclear está a ganhar adeptos no Ocidente, porque temos urânio, o que nos deixa ao abrigo dos caprichos de fornecedores autocratas, e porque reduz as emissões de gases com efeito de estufa.

A Alemanha, que era suposto fechar todas as suas centrais nucleares até ao fim deste ano, prepara-se para manter três em funcionamento. 

O Reino Unido vai construir oito até 2050, porque, como diz Boris Johnson, o país não pode ficar “sujeito a chantagens de gente como Vladimir Putin”. 

Emmanuel Macron anunciou que a França vai “prolongar a vida de todos os reatores que puder ser prolongada”, para além de ir fazer mais seis centrais novas.

Estamos entre a espada e a parede: de um lado temos a espada dos petro-estados, do outro, a parede chinesa que domina a produção de painéis fotovoltaicos. Mesmo assim, quem cantou “antes ser activo hoje do que radioactivo amanhã” de Lena d'Água, quem andou com os pins amarelos “Energia nuclear? Não, obrigado”, é capaz de ainda não estar preparado para mudar para os que dizem “Energia nuclear? Sim, obrigado”. 


2. Viseu não tem uma feira do livro. 

Por que razão Viseu não tem uma feira do livro? 

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