As coisas lavadas
Fotografia de Mehrdad Haghighi |
onde se fodia menos do que o desejável.
Naquele dia ias na rua com a roupa por passar, apesar
de te cobrirem o corpo tantas coisas lavadas quanto uma origem:
pele pêlos dentes cabelos, mas sobretudo
desejo e vontade
apenas de desejo. Lavado como frutos por comer,
o teu desejo, um nome completo, um nome
próprio seguido de apelidos. Mãe, pai, filhos a quem o deixar.
Mais tarde soube. Quando passava no meio dos lençóis,
o cheiro a lavado cobria outro
indecifrável, lento. Não era exactamente pecado. Ou apenas isso.
Muito menos sangue ou drama. Era
o medo concreto e exacto de um nome
bordado, branco absolutamente branco.
Assustador
como papel químico encostado ao corpo.
Inês Fonseca Santos
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