Janelas

Fotografia de Kinga Cichewicz

Minha amada me diz: — Mete.
Céus! Me sinto um meteoro —
e vou indo, feito um globo,
feito um bobo, uma vedete,
um luminoso sinistro.
Ela quer, alguém diria
(quem diria?), ela reflete
compenetrada alegria
por me sentir tão minério,
penhascos e companhia:
essa praia e seus mistérios.
A natureza copia
o que inventamos, aéreos.
Minha amada me diz: — Vem.
Um turbilhão nos trabalha.
O mesmo nos atrapalha,
como quem diz: — Eu também.
Palavras giram no avesso
e nelas nos reconheço
alados, entrelaçados
e realçados por essas
sombras de traços,
espaços
de intraduzíveis janelas.
Rubens Rodrigues Torres Filho


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