Rendas (#3) *
* Texto publicado hoje no Jornal do Centro
1. No último verão, tratei aqui em dois Olhos de Gato do regresso às rendas que está a acontecer na economia global.
Em vez de tratar de assuntos da silly season, escrevi então aqui: "Está a acontecer um movimento contrário ao início do capitalismo. Na altura, formas de riqueza imóvel (as terras e as suas rendas) foram ultrapassadas por formas móveis de propriedade (o lucro da produção industrial)."
Ao fim e ao cabo, tudo o que o sr. Ricardo Salgado, o rentista-mor da república, e os seus mordomos Barroso e Sócrates, andaram a fazer na década que nos levou à bancarrota ilustra bem esta sede de rendas.
O capitalismo financeiro vai tomando conta do comum (a água, o solo, o subsolo, as estradas, o vento, ...) através de formas cada vez mais complexas de propriedade (vejam-se os nós com que foram atados os contratos das rendas das eólicas, ou das PPPs rodoviárias, ou das águas do sul do distrito, ou...) Esses contratos fazem pingar nos beneficiários generosas rendas durante décadas, retirando futuro aos nossos filhos e aos nossos netos.
Como explica o economista suíço Christian Marazzi, quem gaba as virtudes da "economia real" contrapondo-as às maningâncias da "finança" não percebe o essencial: o combustível económico é, agora, cada vez mais a renda e cada vez menos o lucro. E o controlo da "economia do concreto" é exercido à distância.
Quem é, de facto, o "dono" dos Centros Escolares de Santa Comba Dão feitos em PPPs? Quem é o verdadeiro "dono" da A25?
Cada vez haverá mais formas imateriais de propriedade a viverem de rendas. E importa não esquecer o imaterial mais decisivo na economia do conhecimento: as ideias, as patentes, os direitos de autor.
2. António José Seguro, não contente com a confusão das primárias, marcou, também para Setembro, eleições para líderes distritais do PS.
O homem só é diferente do comandante do Titanic porque quer mesmo bater num iceberg.
1. No último verão, tratei aqui em dois Olhos de Gato do regresso às rendas que está a acontecer na economia global.
Em vez de tratar de assuntos da silly season, escrevi então aqui: "Está a acontecer um movimento contrário ao início do capitalismo. Na altura, formas de riqueza imóvel (as terras e as suas rendas) foram ultrapassadas por formas móveis de propriedade (o lucro da produção industrial)."
Ao fim e ao cabo, tudo o que o sr. Ricardo Salgado, o rentista-mor da república, e os seus mordomos Barroso e Sócrates, andaram a fazer na década que nos levou à bancarrota ilustra bem esta sede de rendas.
O capitalismo financeiro vai tomando conta do comum (a água, o solo, o subsolo, as estradas, o vento, ...) através de formas cada vez mais complexas de propriedade (vejam-se os nós com que foram atados os contratos das rendas das eólicas, ou das PPPs rodoviárias, ou das águas do sul do distrito, ou...) Esses contratos fazem pingar nos beneficiários generosas rendas durante décadas, retirando futuro aos nossos filhos e aos nossos netos.
Como explica o economista suíço Christian Marazzi, quem gaba as virtudes da "economia real" contrapondo-as às maningâncias da "finança" não percebe o essencial: o combustível económico é, agora, cada vez mais a renda e cada vez menos o lucro. E o controlo da "economia do concreto" é exercido à distância.
Quem é, de facto, o "dono" dos Centros Escolares de Santa Comba Dão feitos em PPPs? Quem é o verdadeiro "dono" da A25?
Cada vez haverá mais formas imateriais de propriedade a viverem de rendas. E importa não esquecer o imaterial mais decisivo na economia do conhecimento: as ideias, as patentes, os direitos de autor.
A partir de uma fotografia de Enric Vives-Rubio para o Público |
O homem só é diferente do comandante do Titanic porque quer mesmo bater num iceberg.
PS e o dilema: entre a arruaça e a cisão.
ResponderEliminar