Bancarrotas*

* Texto publicado hoje no Jornal do Centro




Amanhã termina a pouco discreta tutela da Troika sobre este rectângulo "à beira-mar plantado”.


Fotografia daqui
Enquanto não acontece a quarta bancarrota, lembremo-nos das três que já aconteceram na terceira república. Os nossos dois primeiros resgates foram em 1977 (1% do PIB ) e em 1983 (2,8% do PIB). Ambos os empréstimos estão pagos, diz a página oficial do FMI. O país não se sabe governar mas lá vai mantendo o cadastro limpo como pagador.

A bancarrota de 1977 foi causada, acima de tudo, pelo “retorno” de mais de meio milhão de nossos concidadãos vindos das colónias. Foi um processo de integração rápido e harmonioso que nos deve orgulhar.

Já tanto a bancarrota de 1983 como a de 2011 são o retrato chapado das nossas elites. A de 1983 é atribuível à grande e eleitoralista valorização do escudo feita, anteriormente, por um ministro das finanças de Sá Carneiro chamado Cavaco Silva. Resultado: 1983 e 1984 foram traumáticos — o PIB contraiu fortemente, houve fome e os rendimentos foram comidos por inflações elevadíssimas (em 1983 o poder de compra caiu 7% e no ano seguinte caiu 12,5%).

Agora, a bancarrota socrática foi de 78 mil milhões de euros. Uma enormidade: 45,5% do PIB (!). Apesar de tudo, estes últimos desgraçados anos parecem não ter tido consequências tão más como as do biénio 1983/84. Há trinta anos o pior foi a inflação, desta vez é o desemprego. Mas parece que agora o "estado social" consegue, apesar de tudo, dar melhor resposta.

Entenda-se: o parágrafo anterior é uma "impressão" de quem é suficientemente "cota" para ter vivido as duas crises. Era bom que fossem feitos estudos objectivos a compararem as consequências dos dois resgates. Como os nossos partidos não têm think-tanks que lhes forneçam pensamento fundamentado, e como os nossos media não fazem trabalhos de fôlego, há que esperar por estudos das nossas universidades para confirmar, ou não, essa "impressão".

Comentários

  1. Fico satisfeito de ver a maioria parlamentar aplaudir o ‘programa de resgate’ desenhado, imposto e posteriormente supervisionado pelo FMI, Comissão Europeia e BCE que ia de encontro ao seu programa ideológico.
    Não se esqueçam de convidar os desempregados, os pobres e os reformados.…

    E também vou recordar que os senhores da Troika eram gente sempre mal disposta.
    Nunca estavam satisfeitos, queriam sempre menos.
    Ai Arrasa, Arrasa!


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