A estátua
* Texto publicado hoje no Jornal do Centro
A blogosfera e as redes sociais viseenses estão a malhar com força na estátua de D. Afonso Henriques que acaba de ser posta na rotunda junto ao Palácio de Gelo.
Miguel Fernandes, no seu blogue "A Tribuna de Viseu", numa irónica carta ao município, “solicita” a sua terraplanagem ou dinamitação.
Graça Canto Moniz, no blogue "A Quadratura da Sé", num texto intitulado “Gente, o rei vai nu!”, chama à estátua “incrível” e contrapõe-lhe o “toque de eternidade” do que é “verdadeiramente uma obra de arte”.
Não fiquei nada admirado com esta reacção. Uma estátua nova costuma dar polémica. Usando a velha chalaça de Fernando Pessoa: nestes casos, o novo primeiro estranha-se e, depois, entranha-se.
Assim aconteceu em Tondela com a hipofálica estátua ao emigrante que deu muito brado quando foi inaugurada mas agora é vista sem polémica.
Entendamo-nos: a nova estátua de Viseu não é um caso de "o rei vai nu!". Ela é o contrário disso: em vez de termos um rei sem “roupa”, o que temos é “roupa” sem rei dentro. Aquela armadura envolve o nada, aquele elmo não protege nenhuma cabeça, protege o vazio. Ou, usando uma bem-humorada analogia de um amigo: o que temos ali é uma espécie de "Homem Invisível" que no filme, para ser visto, tinha de estar de fato, de luvas e de chapéu.
Eu gosto desta “não representação” do nosso primeiro rei. Gosto daqueles signos sem nada dentro — da armadura na forma de Portugal sem os Algarves, do escudo, da longa espada, do elmo. Gosto, até, do kitsch daquele coração.
Aquele “nada dentro” é a melhor maneira de se representar a incerteza histórica: D. Tareja no dia 5 de Agosto de 1109, data de nascimento de Afonso, estava mesmo em Viseu?
Uma coisa é certa: a estátua deve ser posta no centro histórico. Por razões simbólicas e porque esta escultura não tem escala para sobressair visualmente naquela rotunda, junto do volume enorme daquele centro comercial.
Fotografia Olho de Gato |
A blogosfera e as redes sociais viseenses estão a malhar com força na estátua de D. Afonso Henriques que acaba de ser posta na rotunda junto ao Palácio de Gelo.
Miguel Fernandes, no seu blogue "A Tribuna de Viseu", numa irónica carta ao município, “solicita” a sua terraplanagem ou dinamitação.
Graça Canto Moniz, no blogue "A Quadratura da Sé", num texto intitulado “Gente, o rei vai nu!”, chama à estátua “incrível” e contrapõe-lhe o “toque de eternidade” do que é “verdadeiramente uma obra de arte”.
Não fiquei nada admirado com esta reacção. Uma estátua nova costuma dar polémica. Usando a velha chalaça de Fernando Pessoa: nestes casos, o novo primeiro estranha-se e, depois, entranha-se.
Assim aconteceu em Tondela com a hipofálica estátua ao emigrante que deu muito brado quando foi inaugurada mas agora é vista sem polémica.
Entendamo-nos: a nova estátua de Viseu não é um caso de "o rei vai nu!". Ela é o contrário disso: em vez de termos um rei sem “roupa”, o que temos é “roupa” sem rei dentro. Aquela armadura envolve o nada, aquele elmo não protege nenhuma cabeça, protege o vazio. Ou, usando uma bem-humorada analogia de um amigo: o que temos ali é uma espécie de "Homem Invisível" que no filme, para ser visto, tinha de estar de fato, de luvas e de chapéu.
Eu gosto desta “não representação” do nosso primeiro rei. Gosto daqueles signos sem nada dentro — da armadura na forma de Portugal sem os Algarves, do escudo, da longa espada, do elmo. Gosto, até, do kitsch daquele coração.
Aquele “nada dentro” é a melhor maneira de se representar a incerteza histórica: D. Tareja no dia 5 de Agosto de 1109, data de nascimento de Afonso, estava mesmo em Viseu?
Fotografia Olho de Gato |
Uma coisa é certa: a estátua deve ser posta no centro histórico. Por razões simbólicas e porque esta escultura não tem escala para sobressair visualmente naquela rotunda, junto do volume enorme daquele centro comercial.
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