Os governos civis
O primeiro-ministro Pedro Passos Coelho não vai nomear novos governadores civis. É mais um passo no caminho da deslegitimação e esvaziamento do cargo.
Os últimos governadores civis, já na defensiva, tentaram explicar para que servia o cargo, qual era a sua vocação e utilidade e usaram vários argumentos agrupáveis em razões funcionais ou de custo.
Foram todos argumentos muito fracos:
— é um "governador-civil-provedor": uma espécie de agenda telefónica privilegiada a zelar pelo povo junto do governo da república;
— é um "governador-civil-engenheiro": uma espécie de construtor de "pontes" entre instituições do distrito e o governo;
— é uma estrutura "auto-sustentável": o governo civil deve continuar porque tem receitas próprias;
— é uma casa "frugal": o governo civil deve prosseguir porque fica levinho ao orçamento de estado.
Foi penoso de ver governadores civis sem uma ideia política na cabeça para a casa que dirigiam.
Foi penoso de ver governadores civis a debitarem microscópicas estatísticas policiais em conferências de imprensa tristes e ocas.
Foi penoso de ver esta agonia.
Ora, um governo civil para empregar políticos derrotados em eleições não faz sentido nenhum e deve fechar, mas um governo civil se for pensado como a casa da democracia do distrito já faz todo o sentido.
Os círculos eleitorais são círculos distritais, os deputados são eleitos por um distrito, é esse o seu território e o território que representam.
Esta "pertença" distrital, esta "legitimidade" distrital decorrente dos votos podia e devia ter uma plataforma nos governos civis. Os deputados deviam estar nos governos civis. O governo civil devia estar ao serviço da intersecção dos eleitores com os eleitos.
Não ocorreu a nenhum dos últimos titulares do cargo. Foi pena. Agora já deve ser demasiado tarde.
Para Viseu - como para todas as capitais de distrito — o provável fim dos governos civis é objectivamente uma perda. Uma perda que não devia rejubilar ninguém e muito menos o dr. Ruas.
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