Schadenfreude *

     1. Schadenfreude é uma palavra alemã sem equivalente em português. Schadenfreude não é a mesma coisa que inveja, embora haja quem confunda.
     Schadenfreude é a felicidade perante a infelicidade alheia.
     Inveja é a infelicidade perante a felicidade alheia.
     Todos os governos usam a schadenfreude, especialmente em tempos de vacas magras. Quando os tempos são de tirar e não de dar, os governos escolhem alvos específicos. Começam por bater nos privilégios reais ou imaginários do grupo A, e a maioria fica toda contente. Depois dão uma sova nos privilégios reais ou imaginários do grupo B, e a maioria sorri, e o grupo A junta-se a esse contentamento. Depois é a vez do grupo C, do D, e por aí fora…
     A schadenfreude floresce com facilidade. Não há muito tempo, viu-se em Portugal um ataque aos “privilégios” dos “deficientes privilegiados”. Até isso pegou.
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     2. Quando se passa da fase do tirar para a fase do dar, a schadenfreude cede o seu lugar à inveja.
     Os nossos banqueiros são muito invejados. Depois de passarem anos a arredondarem-nos os juros para cima, preparam-se agora para nos porem os cofres públicos para baixo.
     O tratamento prestado ao Banco Privado Português, o banco dos ricos, causou inveja. Muita inveja. Um dia o BPP não causava risco sistémico e era só um problema de meia dúzia de milionários. No dia seguinte, o mesmo banco custava 450 milhões de euros em avales públicos.
     As pessoas ficaram infelizes com a felicidade do sr. Rendeiro, do sr. Saviotti, do sr. Balsemão e do sr. Júdice.
     A schadenfreude bate mais nos de baixo e, por isso, é boa para os governos.
     A inveja bate mais nos de cima e, por isso, é má para os governos.
     No dossier BPP é melhor Sócrates pôr as barbas de molho…

* Este texto foi publicado no Jornal do Centro em 19 de Dezembro de 2008.

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