Ele e ela (#8) *

— Cuidado, vai devagar!
— É a primeira vez que andas no meu carro. Aviso-te já: eu sou um bom condutor. Guio há muitos, muitos anos, e nunca bati…
— Estou nervosa. Simpatizei contigo logo quando te vi na FNAC. Atenção à curva…
— Foi tão giro! Em milhares de livros que lá havia e ambos a querermos o mesmo livro.
— Sim. Eu tinha lido “na palma da tua mão” num blogue. Queria o livro que tivesse esse poema. Trava! Olha o TIR amarelo…
Imagem daqui




“E na palma da tua mão
busco ternura
sem contar meses,
anos, dias
sem saber dizer”…
— … “sem saber dizer
se já te chorei
por inteiro
o suficiente
para não voltar a perder-te”. 
Tão lindo! Tão triste! Gosto tanto da poesia de Vasco Gato! Estamos a chegar à cidade. Abranda.
— Deixa-me apertar a tua mão. E eles na FNAC foram ver à base de dados e só havia aquele exemplar em todas as lojas da rede.
— Foste tão simpático. Deixaste que eu ficasse com ele. Já o li tanta vez! Devagar! Olha a passadeira…
— … parecia o destino. Estava ali aquela mulher linda, linda, linda, que gostava de poesia… deixa-me sentir a palma da tua mão…
— Gostei de te conhecer ali. Os disparates que dissemos no café da FNAC! Cuidado, devagar!, a rotunda está com água…
— “Voa comigo nos ombros da noite
enlaçados como dedos e dedos
Imagem daqui
na ternura completa das mãos”.
Quero-te desde aquele dia. Sonho com esta noite desde aquele dia. Desejo-te agora. Quero-te tanto!
— Acelera! Rápido! Ainda só está no amarelo…


* A série "Ele e ela" saiu nos verões de 2008 e 2009 no Jornal do Centro.
Este #8 foi publicado em 14 de Agosto de 2009.

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