Generosidade *


* Publicado hoje no Jornal de Centro
    
Como é sabido, todos os políticos, de todos os partidos, estão em competição para verem quem é o mais criativo na arte de engendrar receitas.
     
No Entroncamento, um vereador bloquista propôs uma taxa municipal sobre caixas multibanco que está agora em estudo técnico. Dias depois, uma vereadora socialista de Vouzela propôs o mesmo com o mesmo resultado — puseram os técnicos a “estudarem a possibilidade”.
"Multibanco da República", de Yann Thual
      
Este extraordinário caso deu origem a uma peça em quatro actos no blogue Olho de Gato:


Acto 1
     A câmara do Entroncamento, terra onde costumam nascer os fenómenos, equaciona uma equação: aplicar taxa às caixas multibanco na via pública.

Acto 2
     Carmo Bica, vereadora socialista na câmara de Vouzela, terra onde o melhor fenómeno é o pastel, decide equacionar a equação equacionada no Entroncamento.

Acto 3
     O presidente da ANMP, Fernando Ruas, diz que as autarquias têm que “deitar cada vez mais a mão a fontes que dêem dinheiro” mas — ao menos ele! — acha “muito mais transparente, muito mais correcto e muito mais justo” actuar junto do lucro dos bancos “pela via da fiscalidade”.

Acto 4
     Os bancos esfregam as mãos com a ideia. Eles estão mesmo à espera de um pretexto para finalmente poderem lançar a taxa sobre todas as operações no Multibanco que têm em projecto há muitos anos.
     
Mas, afinal, o que é uma caixa multibanco?  
Uma caixa multibanco é uma janela aberta numa parede para dar dinheiro.   
Portanto, uma caixa multibanco é uma janela generosa.  
Logo, esta taxa que está “em equação” é uma taxa sobre a generosidade.


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