Terras do Demo, impostos, blogues e bidés*
* No Jornal do Centro aqui
1. À hora em que no parlamento se retorizava sobre o estado da nação, nas praias fluviais da Barragem do Vilar havia muitos putos e graúdos a banhos. Mais haverá no querido mês de Agosto quando chegarem os nossos queridos emigrantes.
Aquela barragem que dá de beber às Terras do Demo está cheia. No ano passado o nível da água esteve a menos de 15%. Um susto. Uma seca terrível. Já lá vai. Agora a albufeira tem água com fartura, nas margens esverdecem os pomares de macieiras.
Não muito longe, o castanheiro monumental de Beira Valente, em Moimenta da Beira, não sai daquele sítio há pelo menos 1300 anos, mas tudo à sua volta está a mexer. Ainda há meia dúzia de anos não havia nada ao derredor daquela árvore magnífica, e agora, casas e pomares, e muros, e trabalho, e progresso, é isso que o povo sabe fazer, nunca desistir, progredir, melhorar o estado da nação.
Como diria Galileu Galilei, o interior, apesar do egoísmo da corte lisboeta, move-se. Eppur si muove.
2. As tabelas de retenção na fonte do IRS foram alteradas. No segundo semestre o ministro Medina vai ser mais frugal, as pessoas vão receber mais uns cobres no fim do mês.
Esta decisão é positiva. Mais algum dinheiro agora significa que, quando forem feitas as contas anuais do IRS, as pessoas poderão receber menos ou até ter de pagar. Embora seja contra-intuitivo, isso é bom. Repare: se tiver que pagar alguma coisa, isso significa que andou com dinheiro do dr. Medina no bolso. Já se receber, isso significa que o dr. Medina andou, todo fagueiro, a gozar durante um ano com dinheiro que é seu.
3. No tempo em que toda a gente lia blogues, o “Blog do Bidé” era muito popular. Nele, o seu bem-humorado autor, Nuno Gervásio, para além de descarregar as “dúvidas existenciais pelo ralo”, explicava, com um notável espírito de síntese, que aquele “vaso sanitário” serve “para abluções íntimas.”
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Entretanto, os blogues e os bidés perderam adeptos. As “abluções íntimas” do espírito passaram a ser feitas nas redes sociais (em estrangeiro: Facebook, Instagram, Twitter, Tik Tok, ...) e as “abluções íntimas” do corpo em sanitas inteligentes (em estrangeiro: “smart toilets”).
Deve ter sido por isso que o nosso melhor deputado — Carlos Guimarães Pinto, da Iniciativa Liberal —, num discurso notável no parlamento, abludiu a obrigatoriedade de ser posto um bidé em cada casa nova. E também abludiu a obrigatoriedade do dístico do seguro nos nossos pára-brisas.
Esperemos que — água mole em pedra dura... — também consiga, já no próximo orçamento, obrigar o governo a abludir um pouco da nossa encardida carga fiscal.
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