O “caso” *
* Texto publicado no Jornal do Centro há exactamente dez anos, em 27 de Junho de 2013
1. As campanhas eleitorais autárquicas são uma festa da democracia, com dezenas de milhar de candidatos. É neste “exército” que assenta o essencial da nossa participação cidadã.
É verdade que se cometem, nestas alturas, muitas asneiras, se estraga muito dinheiro e surge um ou outro “caso” que faz correr rios de tinta.
Contudo, o saldo é positivo. Muito do que de bom tem o país deve-se ao trabalho dos seus autarcas, trabalho muitas vezes não remunerado. É o caso de 93% dos presidentes da junta, cujo trabalho dedicado e gracioso o doutor Relvas e a direita decidiram desprezar, extinguindo freguesias à bruta numa lei miserável.
A grande corrupção que levou este país à bancarrota não está nas câmaras nem nas juntas, a corrupção está em Lisboa, está no sistema mediático, está nos governos, está no parlamento, está na grande advocacia dos negócios, está nas empresas públicas, está nas pêpêpês e demais rentismos que parasitam o estado.
2. Eis os factos do primeiro “caso” destas autárquicas:
(i) Hélder Amaral pediu o Solar do Dão para a apresentação da sua candidatura;
(ii) Arlindo Cunha, o presidente da comissão vitivinícola do Dão, disse-lhe que sim;
(iii) a câmara meteu o bedelho, proibiu a utilização daquele belo edifício, deixando pendurados Arlindo Cunha e Hélder Amaral;
(iv) este, por pirraça, foi fazer o número para debaixo da janela do dr. Ruas;
(v) Almeida Henriques, numa tentativa de controle de danos, veio depois dizer que, também ele, foi impedido de usar o Solar do Dão.
Não se percebe: Arlindo Cunha disse sim a Hélder Amaral e disse não a Almeida Henriques? A câmara também meteu o bedelho? Anda tudo doido?
Uma coisa é certa. Havia a boa tradição da sala de visitas da cidade, o Rossio, ser território livre de partidarices. Depois desta reacção de Hélder Amaral à mesquinhez da câmara, essa tradição vai ser mais difícil de se manter.
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