Cortina de Ferro *
* Texto publicado no Jornal do Centro há exactamente dez anos, em 13 de Junho de 2013
“Desde Stettin no Báltico a Triestre no Adriático, uma Cortina de Ferro caiu sobre o continente”, foi assim que Winston Churcill, em 5 de Março de 1946, anunciou ao mundo o pesadelo que vinha a seguir ao pesadelo nazi.
A Cortina de Ferro enclausurou centenas de milhões de europeus por mais de 40 anos, até à queda do muro de Berlim em 1989.
Importa não esquecer que os comunistas alicerçaram sempre o seu poder no controle das polícias secretas. Os primeiros quadros, formados pelos soviéticos ainda decorria a guerra, começavam sempre por tomar conta dos aparelhos repressivos.
É por isso que os arquivos das polícias secretas comunistas são uma das principais fontes de informação de “Iron Curtain, The Crushing of Eastern Europe 1944-1956”, de Anne Applebaum, editado em 2012. Espere-se que alguma das nossas editoras se abalance na versão portuguesa.
A historiadora conta que, no avanço do exército vermelho até Berlim, um dos objectos mais roubados eram relógios. Havia soldados soviéticos que traziam no pulso meia dúzia de relógios.
Num cinema de Budapeste, poucos meses depois de acabada a guerra, quando mostraram imagens da cimeira de Ialta (na altura ainda não havia televisão, as notícias eram vistas nos cinemas), apareceu um plano em que o presidente americano Roosevelt levantou o braço e a sua manga descaiu enquanto falava com Estaline. Várias pessoas no cinema gritaram: «cuidado com o relógio!»
Quando li este episódio, pensei terminar aqui uma crónica, com bonomia, comparando o caso aos orçamentos de Vítor Gaspar. De facto, quando o ministro pega na máquina de calcular, há que gritar: «cuidado com as pensões!»
Mas desisti: essa analogia seria obscena porque nada é comparável às limpezas étnicas, às deportações, ao pesadelo criado por Estaline com a complacência do ocidente, como é descrito neste livro monumental.
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