A guerra civil*

* Texto publicado no Jornal do Centro há exactamente dez anos, em 20 de Junho de 2013


A primeira página do Jornal do Centro de há duas semanas dava destaque a uma afirmação fortíssima de Hélder Amaral, o candidato do CDS à câmara de Viseu: “A minha prioridade é libertar os cidadãos de Viseu da Câmara Municipal”.

Uma manchete assim é helicópteros no ar, é cheiro a napalm pela manhã, é música de Wagner, é uma declaração de guerra total. 

Não se estranhe que o candidato centrista tenha ido buscar o indómito coronel Fernando Figueiredo para o acompanhar nesta guerra civil à direita, nesta guerra entre os partidos do governo, começada em Viseu mas que se vai espalhar ao país.

Aquela entrevista de Hélder Amaral vai fazer história. O dia das autárquicas vai ser o início de uma nova era. Primeiro o CDS vai “libertar os cidadãos de Viseu” das perfídias da câmara PSD, depois será o país. 

Como tão bem explicou Hélder Amaral no seu bombardeamento, o voto nas autárquicas vai libertar os viseenses de “uma câmara astronómica que tudo ocupa, toma conta da vida das pessoas e seca toda a iniciativa”, vai livrá-los de uma assembleia municipal dirigida por Almeida Henriques “sem discussão livre de ideias” e sem “liberdade”, vai exterminar um “núcleo de interesses” laranja “onde está toda a gente bem à conta do contribuinte” e, acima de tudo, vai acabar com um “concelho do favor e do medo”.

Repete-se: esta guerra civil à direita não se fica só pelo solo sagrado que vai de Calde a Fail, de Torredeita a Povolide. 

A partir de 29 de Setembro a coligação que nos governa estará por um fio. Inspirado no heróico exemplo beirão, Paulo Portas em cima desse fio, seguro nos passos, ou por Seguro ou por Passos logo se há-de ver, naquela noite vai lançar a bomba atómica perante o país atónito.

Naquela noite, ou a hecatombe da direita é grande e Gaspar perde o emprego, ou a hecatombe da direita é avassaladora, e é Passos quem perde o emprego.

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