“Bavovna” e “Miljonprogrammet”

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1. Em ucraniano, “bavovna” quer dizer algodão. Bem, na verdade, depois da invasão putinista, “bavovna” passou a querer dizer mais qualquer coisa, especialmente em memes: “bavovna na Crimeia”; “bavovna em Belgorod”; “bavovna em Kursk” — “algodão na Crimeia”; “algodão em Belgorod”; “algodão em Kursk”.

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Está-se mesmo a ver:  agora, “algodão” significa também “buuuummmm!” e esta evolução semântica é da responsabilidade da propaganda russa. Para que não haja alarme social, na federação russa não se usa a palavra “explosão”. É que coisas dessas acontecem muito por lá, nas canalizações de gás e não só. Por isso, em vez de “explosão”, os media russos usam um eufemismo — “estrondo” (khlopok). 

Ora, quando os russos quiseram plantar “notícias” falsas de explosões no país invadido meteram “khlopok” num tradutor electrónico e saiu-lhes “bavovna”. Isto é, em vez de explosões, os invasores fartaram-se de anunciar “algodão” em tudo quanto era cidade ucraniana.

Foi um gozo pegado no país de Zelensky. Memes hilariantes. Esta semana, houve “algodão” em bairros das elites moscovitas. Um dia destes, vai haver outra vez “bavovna” na ponte de Kerch.


2. Em sueco, “Miljonprogrammet” quer dizer “Programa Milhão” e refere-se a uma decisão política do primeiro-ministro social-democrata Olof Palme que, perante o agudo problema da habitação no seu país, projectou a construção de um milhão de casas numa década, entre 1965 e 1975. 

Esta iniciativa estatal contou com os melhores arquitectos suecos, e fez bairros a sério, à escala humana, com espaços públicos decentes, escolas, creches, bibliotecas. Um contraste com os arredores deprimentes de habitação social que então se estavam a fazer na Europa, os franceses e alemães com muita mão-de-obra emigrante portuguesa.

Acabemos com três notas, sendo a última melancólica:

(i) Foi graças a este “Miljonprogrammet” que a Ikea e a Electrolux ganharam asas para voar;

(ii) Não consta que os custos tenham resvalado e os objectivos foram cumpridos, até superados: foram feitas um milhão e seis mil casas;

(iii) Enquanto a Europa vivia os “Trinta Anos Gloriosos” do pós-guerra — de que o “Programa Milhão” sueco é um exemplo feliz —, o nosso Portugal salazarista e caetanista continuou imóvel, cinzento, triste.

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